Eucalipto com ciência, plantio consciente

22/08/2003 - 20h08

Eucalipto com ciência, plantio consciente

Nelson Barboza Leite (*)

Em períodos cíclicos, surgem críticas ao plantio florestal, em especial às plantações de eucaliptos e pinus, por pessoas preocupadas com a preservação ambiental, porém com pouquíssimo embasamento técnico e desconhecimento da evolução da silvicultura, ou seja, da cultura de árvores no Brasil e no mundo.

Esta ciência surgiu com a necessidade de garantir matéria-prima para setores produtivos da economia, de forma a impedir impactos ambientais que venham a comprometer os recursos naturais do planeta, dentre os quais se encontram as florestas nativas e todo um ecossistema que sobrevive graças a essas áreas, com destaque para a preservação dos recursos hídricos, tão importantes para o futuro da humanidade.

São pertinentes as preocupações quanto aos desmatamentos ilegais, o desrespeito às Áreas de Preservação Permanente e a destruição das Áreas de Reserva Legal, realizados por proprietários de terras inescrupulosos. São crimes ambientais, que exigem punição exemplar àqueles que assim procedem, seja qual for o uso que se pretenda dar à propriedade. Seja para plantar eucalipto, fazer pastagem, produzir arroz, feijão, milho, frutas, flores. Nada justifica a contínua degradação dos remanescentes florestais existentes. Neste sentido, os ambientalistas, sejam qual for a sua formação profissional, contam com todo o apoio da comunidade de profissionais que atuam na área de silvicultura.

Por outro lado, a grande parte da produção de matéria-prima para a indústria de papel e celulose - cegamente atacada por aqueles que se dizem ambientalistas - se estende por áreas onde são aplicadas técnicas que garantem a minimização dos impactos ambientais. A silvicultura brasileira é considerada uma das mais evoluídas do mundo e o plantio de eucalipto tem sido uma das várias opções utilizadas para ocupação de áreas impunemente desmatadas no passado e que já se encontravam em avançado estágio de degradação.

No Brasil, o setor de florestas plantadas dispõe de 5 milhões de hectares cultivados com eucalipto e pinus e mantém outros 1,6 milhão de hectares de florestas nativas, constituindo-se, assim, no setor produtivo que mais investe na preservação de matas nativas. Além disso, o plantio de árvores para abastecer a indústria de papel e celulose, móveis, siderurgia a carvão vegetal, painéis e chapas contribui, de forma significativa, para reduzir a pressão sobre as florestas nativas, conforme ressaltam diversos estudos do Ministério do Meio Ambiente e de universidade brasileiras. Cada hectare de floresta plantada de eucalipto produz a mesma quantidade de madeira que 30 hectares de florestas tropicais nativas;

É , realmente, inaceitável o descaso de certos proprietários rurais, que cultivam as mais variadas culturas ou árvores ou mesmo pastagem, para com os recursos solo, água e cobertura florestal em áreas acidentadas ou com importantes peculiaridades ambientais. É também condenável a maneira como se conduzem algumas florestas de eucalipto em regiões de localização indevida, colheita em idades inapropriadas, sem manejo das brotações e utilização de fogo. Estes são procedimentos ultrapassados, que precisam ser combatidos. Trata-se de uma atividade que não se sustenta, não gera empregos dignos, não gera renda capaz de mudar o quadro de pobreza que se verifica em muitas propriedades rurais.

A silvicultura brasileira, fortemente baseada no plantio de eucalipto e pinus, não é nada disto. Pelo contrário, propicia emprego para 500 mil pessoas de forma direta e 2 milhões de trabalhadores indiretamente; gera anualmente US$ 16,1 bilhões em produtos de base florestal, o que representa 2,6% do PIB e propicia um superávit na balança comercial de cerca de US$ 3,4 bilhões. Só as exportações de produtos oriundos de matéria-prima de florestas plantadas de eucalipto e pinus no Brasil totalizaram aproximadamente US$ 3,35 bilhões no ano passado.

Há 47 anos a Sociedade Brasileira de Silvicultura vem defendendo o plantio e o uso do eucalipto com base em conhecimentos científicos, gerados nas universidades, instituições de pesquisas e empresas florestais. Hoje, devido aos conhecimentos provenientes da ciência, tecnologia e experiência, alguns pontos que no passado geravam polêmica foram revistos e esclarecidos, como por exemplo:

- O eucalipto NÃO seca o solo: comparações feitas entre espécies de eucalipto e outras espécies florestais mostram que os plantios de eucalipto no Brasil consomem a mesma quantidade de água que as florestas nativas. Sua maior eficiência no aproveitamento da água garante maior produtividade quando comparado a outras culturas agrícolas (com 1 litro de água produz-se 2,9 gramas de madeira de eucalipto; com a mesma quantidade de água produz-se apenas 1,8 grama de açúcar, 0,9 grama de grãos de trigo e 0,5 grama de grãos de feijão);

- O eucalipto NÃO empobrece o solo: pesquisas independentes já mostraram os efeitos benéficos do eucalipto sobre diversas propriedades do solo, como estrutura, capacidade de armazenamento de água, drenagem e aeração, entre outras. A remoção de nutrientes (nitrogênio - N, fósforo - P, potássio - K e cálcio - Ca) para eucalipto com 8 anos foi de 110, 11, 95 e 50 kg/ha/ano, respectivamente; enquanto a cana-de-açúcar removeu 208, 22, 200 e 153 kg/ha/ano, respectivamente;

- as plantações de eucalipto realmente não abrigam uma biodiversidade tão grande como no caso das florestas naturais. Mas, como existe a colheita de forma sustentável, aliada à manutenção de áreas de proteção ambiental e de reservas naturais inseridas em diversos tipos de ecossistemas, os impactos são minimizados. Ainda assim, o eucalipto e o sub-bosque presentes nos plantios formam corredores para as áreas de preservação e criam habitat para a fauna, oferecendo condições de abrigo, alimentação e reprodução para várias espécies;

A atividade produtiva baseada nas plantações de eucaliptos e pinus gera muitos benefícios sociais e econômicos e não pode continuar a ser atacada de forma cega por pessoas que se dizem defensoras do meio ambiente. Quando manejados de forma adequada - como tantos outros empreendimentos rurais - os plantios de eucalipto oferecem inúmeras vantagens ao meio ambiente e à sociedade em geral, recuperando solos exauridos pelo cultivo e queimadas; controlando a erosão; contribuindo na regulação do fluxo e da qualidade dos recursos hídricos e na estabilização do solo, absorvendo por hectare/ano 10 toneladas de carbono da atmosfera e , assim, diminuindo a poluição e o aquecimento global e combatendo o efeito estufa, só para citar alguns.

(*) Nelson Barboza Leite é engenheiro agrônomo, presidente da Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS) (www.sbs.org.br)