Familiares de sem-teto mortos em Goiânia questionam violência policial

17/02/2005 - 14h05

Keite Camacho
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Os corpos dos sem-teto Vagner da Silva Moreira e Pedro Nascimento, mortos nesta quarta-feira durante a desocupação do Condomínio Sonho Real, no Parque Oeste Industrial, em Goiânia, estão sendo velados na Catedral Metropolitana da cidade, de onde seguem para o sepultamento no município de Aparecida de Goiânia (GO). Moradores do parque desocupado acompanharão o cortejo em passeata até as praças Cívica e dos Trabalhadores.

O secretário especial de Direitos Humanos, ministro Nilmário Miranda, estava no Instituto Médico Legal (IML) de Goiânia quando Dalvina Mendes da Silva França chegou para reconhecer o corpo do filho Vagner, o primeiro a ser identificado e liberado. Só no meio da tarde desta quarta-feira parentes de Pedro foram ao IML para fazer o reconhecimento.

Raimundo Pereira da Silva Filho disse que só viu o buraco de bala abaixo do peito direito do irmão Pedro e não observou mais nada. "Não consegui [olhar mais]", disse Raimundo, que não morava no condomínio. Ele contou, entretanto, que outra testemunha viu quando seu irmão foi baleado. De acordo com o relato, Pedro, depois de já estar algemado, "foi arrastado por um certo tempo e deixado perto de um bar. Quando viram que estava morto, largaram-no e partiram para outro lado. Com uma bala, matavam duas pessoas", afirmou Raimundo.

Segundo Raimundo, os corpos teriam sido jogados em cisternas e depois os policiais passavam máquinas, alegando que era para a passagem do carro da polícia. "Para fazer a faxina, como eles costumam falar", acrescentou.

Já Dalvina observou escoriações na face do filho. Ela disse que Vagner estava com o tio quando foi alvejado. "Meu irmão e meu filho correram e os policiais atiraram pensando que eram dois bandidos. Meu irmão foi tentar pegá-lo, mas queriam atirar nele também. Ele correu, mas o levaram preso", contou Dalvina. Nesta quarta-feira, a Polícia Militar de Goiás negou a existência de outras mortes na desocupação. "Isso é uma falácia", disse o tenente-coronel Antônio Elias.

Para ela, os moradores do condomínio desocupado pelos policiais viveram momentos de terror na manhã de ontem. "Foi um terror. Os policiais chegavam com metralhadoras na frente do povo, e não podíamos mais sair porque atiravam na gente."Vi atirando em velhinhos, em uma criança. Caiu uma bomba bem do meu lado", desabafou.

Gláucia Maria, moradora do Parque Oeste Industrial, disse que o que houve foi um massacre. "A polícia entrou atirando e não deu chance. Todo mundo estava com os lencinhos brancos, pedindo para que não atirassem, mas não resolveu muito. Entraram armados, batendo, atirando, judiando das pessoas, humilhando, fazendo as mulheres beijarem a bota deles, colocando a arma na cabeça de crianças. Mataram o Vagner sem motivo", afirmou.