Presidente da CPI diz que depoimento do autor da gravação de fita nos Correios foi ''divergente''

28/06/2005 - 16h29

Luciana Vasconcelos e Christiane Peres
da Agência Brasil

Brasília - O presidente da comissão parlamentar mista de inquérito que apura denúncias de corrupção nos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), qualificou de "divergente" o depoimento prestado hoje à CPMI por Joel Santos Filho. "Há divergências latentes entre o que foi dito na Polícia Federal e hoje", afirmou o senador.

Joel Santos Filho participou da gravação de uma fita de vídeo em que o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios Maurício Marinho aparece recebendo dinheiro de supostos empresários e falando sobre um esquema de fraude em licitações na estatal, que seria comandado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

No depoimento, que começou por volta das 11h20, Joel Santos disse que estava nervoso e, com voz baixa, começou seu relato. Diferentemente do que Maurício Marinho disse à CPMI, que havia recebido o dinheiro para prestar uma consultoria, Joel Santos afirmou que o valor era um "agrado para possíveis despesas que Marinho tivesse para obter as informações para ganharem uma das licitações". Segundo Joel, inicialmente foram repassados R$ 3 mil, como mostra o vídeo divulgado pela imprensa, e havia a promessa de pagar mais R$ 12 mil a Marinho em novos encontros.

Joel Santos informou que é amigo do empresário Arthur Waschek Neto há 13 anos e que este o chamou para participar das gravações. Segundo Joel, Waschek disse que tinha problemas com licitações nos Correios porque desconfiava de Maurício Marinho e queria levantar provas contra ele para mostrar ao então diretor de Administração da estatal, Osório Batista. Joel Santos contou que se encontrou quatro vezes com Marinho. Na primeira, que serviu para conhecer Marinho, ele se apresentou como J. Goldman, um representante de empresas multinacionais no Brasil. Saiu deste encontro com a impressão de que o ex-funcionário estava envolvido em atividades ilícitas. "Tive a impressão de que Marinho não era uma pessoa honesta, por isso, resolvi participar das gravações para ajudar Arthur (Waschek)", afirmou.

Nos outros três encontros com Marinho, Joel levou o equipamento para realizar a gravação. Na primeira vez, não conseguiu. Para ele, na segunda gravação havia elementos suficientes para incriminar Marinho, mas Waschek não concordou e solicitou nova gravação. Desta vez, Joel Santos chamou para ajudá-lo João Carlos Mancuso. "Chamei para justificar uma nova gravação", disse. Pelo trabalho, João Carlos cobrou R$ 1 mil.

Durante o depoimento, Joel Santos disse que a intenção não era que o vídeo fosse divulgado e confessou que cometeu um deslize. "O tamanho que isso tomou assusta qualquer um", afirmou. "Eu não fiz serviço sujo, estava ajudando um amigo. Estou arrependido. Realmente aprendi a lição", acrescentou.

Para o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), integrante da CPMI, não foi só a amizade que motivou Joel Santos a fazer o trabalho. "Está claro que não é um favor para amigos", disse. "Na verdade, é uma quadrilha de arapongas que tentaram participar de processos licitatórios de forma irregular", completou.