Sistema escravocrata contribuiu para cavar abismo social no Brasil, diz Lula

30/06/2005 - 21h19

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva relacionou o passado histórico do Brasil como país escravocrata às desigualdades socioeconômicas que marcam a sociedade brasileira, hoje, ao participar da 1ª Conferência Nacional para Promoção da Igualdade Racial.

Para o presidente, foi o sistema de escravidão de negros trazidos do continente africano que colaborou para a existência do que classificou de abismo social. "Esse sistema canalizou a riqueza para uma elite poderosa e cavou um abismo social que até hoje marca a vida nacional".

Lula enfatizou que a desigualdade que se iniciou com o processo de escravidão tem conseqüências nos dias atuais. "Essa desigualdade secular trava o desenvolvimento, concentra riquezas e oportunidades nas mesmas mãos e condena o país a viver o seu potencial pela metade".

O presidente lembrou que a questão negra e quilombola que se apresenta hoje é a herança desse passado que mais salta aos olhos. Lula disse que, justamente por esse passado, a promoção da igualdade racial é um compromisso ético de seu governo. Mais do que isso, é uma diretriz política e econômica de desenvolvimento.

Na esperança de superar o passado da escravidão, Lula disse que o governo criou a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, com status de ministério. "Estamos, juntos, governo e sociedade, empenhados em superar essas heranças históricas (...) para transformar nosso anseio comum de justiça em políticas públicas efetivas", ressaltou o presidente, referindo-se à criação da pasta. Ele enfatizou que toda e qualquer parcela da população vítima de preconceito ou intolerância recebe proteção e atenção da secretaria.

O presidente Lula disse que o Brasil foi a maior potência escravocrata do mundo colonial e também o último país a abolir o tráfico humano. Ele calculou que quatro milhões de negros, o que representaria 40% do comércio mundial de escravos, desembarcaram no Brasil "para erguer um império feito de açúcar e açoite".