Exército deveria presentear o povo com abertura dos arquivos da ditadura, diz Rose Nogueira

31/03/2006 - 22h21

Brasília, 31/3/2006 (Agência Brasil - ABr) - A presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Rose Nogueira, disse hoje (31), quando se completam 42 anos do golpe militar de 1964, que o Exército deveria presentear o povo brasileiro com a abertura dos arquivos da ditadura.

Ao comentar nota divulgada pelo comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, em que ele destaca o 31 de março como "memória, dignificado à época pelo incontestável apoio popular", Rose enfatizou que se houvesse apoio popular não existiria o golpe – as Forças Armadas garantiriam a realização de eleições. "Que apoio popular é esse que mata e tortura?", indagou a presidente do Tortura Nunca Mais.

Rose Nogueira rejeitou a concepção de que a data possa fazer parte da História do Brasil como algo memorável, a exemplo do que sugere a nota do comandante do Exército. "Eles sempre costumam referir-se ao 31 de março como se fosse o máximo. Não foi. Foi um período negro e triste. Já que eles consideram isso um aniversário, eles deveriam dar de presente ao povo brasileiro a abertura dos arquivos. Desses arquivos escorre sangue. Vamos abri-los, vamos promover um grande encontro nacional. Vamos nos abraçar. Somos todos brasileiros. Mas, para isso, precisamos rever nossa história", sugeriu.

Na nota, Albuquerque diz que "o 31 de março insere-se, pois, na História pátria e é sob o prisma dos valores imutáveis de nossa Força e da dinâmica conjuntural que o entendemos. É memória, dignificado à época pelo incontestável apoio popular, e une-se, vigorosamente, aos demais acontecimentos vividos, para alicerçar, em cada brasileiro, a convicção perene de que preservar a democracia é dever nacional".

O comandante registrou, ainda, que o Exército é "parcela ativa da sociedade brasileira, representado em suas fileiras por todas as camadas sociais, segmentos raciais, credos religiosos e totalmente afinado com os anseios e aspirações do nosso povo". Albuquerque destacou também que o Exército se orgulha do passado "porque nele os valores postulados da Instituição, que se confundem com os da própria Nação brasileira, nasceram e se consolidaram".

Para Rose Nogueira, a ditadura lembra a censura, a proibição de pensar e questionar, e o fim de muitas vidas: "Muitas pessoas foram torturadas, outras mortas. Infelizmente, para passar a borracha em cima disso, a gente vai ter que conhecer esse período e se encontrar de novo". Ela destacou que o golpe foi possível graças ao apoio das elites, e que o povo só teve a perder com o regime militar. "Imagine o que o Brasil não teria sido se prosseguisse com a democracia? A democracia, conquistamos todo dia. E naquele tempo até a palavra democracia era proibida", observou.

O Exército de hoje, segundo Rose Nogueira, é muito diferente daquele que deflagrou o golpe. Ela disse esperar que a Força "garanta a paz e a soberania, que guarde nossas fronteiras". E acrescentou: "Acho que o Exército tem que se modernizar e modernizar é ter mais equipamentos, não só para guardar fronteiras, mas também realizar pesquisas. Sinceramente, espero que o Exército tenha recursos disponíveis para isso".