Especialistas pedem mudanças no SUS para melhorar atendimento a mulheres negras

13/05/2007 - 16h15

Alessandra Bastos e Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ser mãe e mulher negra no Brasil é também estar em desvantagem emtodos os indicadores que dizem respeito à saúde. De acordo com aPesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2004, 46,3% das mulheresnegras com mais de 25 anos nunca haviam sido submetidas a exame clínicode mamas - entre as brancas esse mesmo índice preocupante é de 28,7%.Segundo oInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o riscorelativo de morte materna é 7,4 vezes maior entre as mulheres negras. "Elas têm acesso tardio ao pré-natal, dificuldades em encontrar vagasnas maternidades na hora do parto e problemas no atendimento durante eapós o parto", explica apsicóloga Maria de Oliveira, autora do estudo Saúde da População Negra, do Brasil-Império aos Dias de Hoje: Uma História de (In)definições de Políticas Públicas.Ex-secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, ela é consultora do Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI), desenvolvido em parceria pelos governos brasileiro, britânico e agências internacionais ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU). Na opinião da psicóloga,melhor que punir agentes de saúde que discriminam as pacientes negras no atendimento é investir na qualificação do servidor público."Neste sentido, o Ministério da Saúde tem como uma das metaspara este ano a humanização do atendimento no Sistema Único de Saúde. É um projeto ainda muito incipiente, o SUS não dá um tratamentoadequado com a dignidade necessária à população que precisa dele, especialmente a população negra”, reclama Maria de Oliveira.

De acordo com a Secretaria Especial de Políticas de Igualdade Racial (Seppir), o percentual de pessoas que consegue atendimento médico é substancialmente maior entre os brancos (83,7%) que entre os negros (69,7%). Também o número de consultas que cada pessoa faz por ano é maior no caso das pessoas brancas (2,29) do que nas negras (1,83%).

A taxa de mortalidade infantil das crianças filhas de mulheres negras é cerca de 66% maior que a das crianças filhas de mulheres brancas, segundo a Seppir. Considerando a meta dos Objetivos do Milênio – 16 óbitos de menores de um ano por mil nascidos vivos, em 2015 –, será preciso uma redução de 30,2% na mortalidade infantil dos filhos de mulheres brancas e de 57,9% entre os filhos de mulheres negras.

No ano passado, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional deSaúde Integral da População Negra. O documento prevê uma série de estratégias. Segundoa integrante da organização não-governamental (ONG) Criola, LúciaXavier, na aplicação dessas ações, os gestores públicos precisam ter em mente que a discriminação da população negra ocorre desde sua chegada aoserviço de saúde até a realização de exames e outros procedimentos. 

“Asparturientes acabam recebendo até menos anestesia, porque se acreditaque as mulheres negras seguram mais a dor.  Então, a seleção de quem vaireceber uma medicação, independente de ser uma prescrição, tem a vertambém com o olhar que se tem sobre a mulher negra. Os exames que são necessários acabam não rolando, porque há um certo nojo, um certo desprezo pela pessoa”, argumenta LúciaXavier, citando estudo realizado em 2003. De acordo com a pesquisa, o número de gestantes negras que não recebem anestesia no parto é duas vezes maior do que o de gestantes brancas.