Indefinições sobre agricultura podem dificultar conclusão da Rodada Doha, diz ministro

14/07/2008 - 21h29

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Os ministros das Relações Exteriores dos países do Mercosul concordaram hoje (14), que faltam “avanços substanciais” no quesito agricultura para chegar a um acordo na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A mensagem foi  transmitida pelo ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que preside a reunião de coordenação dos ministros do Mercosul, que se realiza no Copacabana Palace Hotel.

“A nossa visão comum, sempre temos defendido, é que o motor da Rodada é a agricultura. E que a velocidade desse motor ainda não está  totalmente definida e isso causa limitações para poder avaliar os outros aspectos da rodada”, disse Amorim.

O encontro é preparatório à Reunião Ministerial Informal da OMC, que ocorrerá a partir do próximo dia 21, em Genebra, na Suíça, dentro da Rodada Doha.

Para o ministro, os novos textos revistos, relativos à agricultura, deixam várias questões em aberto. Amorim deu como exemplo os subsídios internos, item sobre o qual permanece a imprecisão sobre o número final que prevalecerá em relação à soma total dos subsídios “distorcidos” e também em relação à margem de ajuste.

Amorim disse que os limites  desses subsídios “distorcidos” estão entre US$ 13 bilhões e US$ 16,5 bilhões. “É uma diferença  muito considerável, que pode ter um impacto diferenciado, na nossa avaliação, do que existe na mesa em agricultura”, avaliou sobre o que está em negociação pelos países da OMC.

Quanto ao item acesso a mercados de produtos agrícolas, o ministro disse que não houve avanços em relação ao texto anterior, principalmente no tocante à áreas de interesse para o Mercosul. Dentre eles, está a questão de salvaguardas especiais para países desenvolvidos. “E houve mesmo alguns retrocessos”, afirmou. 

Um exemplo é a possibilidade de haver cotas para produtos que até agora não eram considerados sensíveis e podem passar a ser considerados como tal. “Nós achamos que isso abre uma caixa-preta em que qualquer produto poderá entrar na lista, com graves prejuízos para os nossos interesses”. O ministro avaliou que se não houver avanços em pontos como este, será difícil concluir a rodada.

Ele alertou para a importância do papel de liderança dos países ricos em colaborar para a conclusão das negociações, principalmente, porque são os países desenvolvidos que praticam subsídios agrícolas. “Isso é o mais grave em toda essa negociação”.

Amorim disse que os países do Mercosul estão abertos a negociações bilaterais com os países ricos, especialmente com os da União Européia, a exemplo do que vêm fazendo com os países em desenvolvimento, não só dentro da própria América do Sul.

“Mas esses pontos fundamentais dos subsídios só podem ser resolvidos multilateralmente”, destacou o ministro. Segundo  ele, um resultado positivo na Rodada de Doha colocaria o Mercosul  numa melhor posição para negociar outros acordos.As reuniões de coordenação dos ministros do Mercosul, sobre a Rodada Doha, continuam até a semana que vem.