Ivan Richard
Enviado Especial
Anapu (PA) - Relatos demoradores do lote 55, na zona rural do município de Anapu(PA), onde foi assassinada a missionária americana DorothyStang em 2005, comprovam que o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvãotentou fazer um acordo com os agricultores para usar a terra. A área,de 3 mil hectares, pertence à União e estásubjudice desde a morte da religiosa.De acordo com relatodos agricultores à reportagem da Agência Brasil,Regivaldo, conhecido como Taradão, organizou uma reuniãoem que teria mostrado documentos que comprovariam a posse da áreaonde existe o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS)Esperança, idealizado por Dorothy."Ele [Regivaldo]mandou um rapaz falar com a gente para dizer que queria fazer umacordo dizendo que a terra era dele", afirmou a professoraFrancisca Silva dos Santos, que mora no lote 55."Moramos aqui, masnão sabemos quem é o dono. Qualquer um que chegadizendo que é dono e diz ter documentos nósdesconfiamos. O Incra [Instituto Nacional de Colonizaçãoe Reforma Agrária] nunca deu a terra para gente",acrescentou.Conforme os moradoresouvidos pela reportagem da Agência Brasil, Regivaldopropôs "ceder" dez alqueires para cada um dosagricultores que já está na terra em troca da áreade pasto e um pouco da reserva da floresta.Segundo a professora,onze moradores tiveram o transporte pago por Regivaldo para ir àsede do Incra em Altamira. Antes porém, houve um encontro dosagricultores com o fazendeiro, que é um dos acusados de ser oresponsável pelo assassinato da missionária."Antes da reuniãocom o Incra, tivemos um encontro só com ele e ele passou aproposta para gente, dizendo que era dono da terra e mostrou um montede documentos. Mas hoje a gente não acredita em nada, se éverdadeiro ou falso", contou Francisca. Outro morador, RaimundoSouza, conhecido como Paraupebas, confirma a versão daprofessora. "Quando eu vi o homem me espantei", disse oagricultor. "Ele prometeu os dez alqueires, construir posto desaúde e melhorar as vicinais – como são chamadas asestradas na região", completou Paraupebas.De acordo comprofessora, Regivaldo não ameaçou os agricultores, masdisse que se os camponeses não aceitassem a proposta a Justiçaira tirá-los do local sem direito a nada. "Ele disse que seganhar na Justiça, a própria Justiça vai botartodo mundo pra fora", relatou. As declarações deFrancisca da Silva dos Santos foram confirmadas por outros moradoresda região, que preferiram não se identificar."Ele [Regivaldo]disse que não quer mexer com Justiça, porque se ele for'mexer', ele vai ganhar a terra e a gente não vai ter direitoa nada", acrescentou Francisca lembrando que uma semana depoishouve uma audiência pública para tratar do assunto, àqual o fazendeiro não compareceu. Depois da reuniãorealizada ainda no lote 55, os agricultores e Regivaldo foram aoIncra, em Altamira. Do segundo encontro, realizado no dia 28 deoutubro, foi elaborada uma ata em que o fazendeiro teria propostoum acordo em que aceitava "conceder" 2,5 mil hectares dolote 55 aos camponeses em troca de 500 hectares de pasto da mesmaárea.Ontem (18), areportagem tentou contato com o fazendeiro em Altamira, mas foiinformada de que ele estava para sua fazenda e que não haveriapossibilidade de comunicação.