Líderes indígenas manifestam inconformismo com retirada de amigos da Raposa

30/04/2009 - 7h32

Marco Antonio Soalheiro
Enviado Especial
Vila Surumu (Terra Indígena Raposa Serra do Sol) - Oprocesso de desocupação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol -previsto para ser encerrado hoje (30) pacificamente -  não é traumáticoapenas para quem está de partida. Representantes da Sociedade dos ÍndiosUnidos em Defesa de Roraima (Sodiu-RR), que sempre foram contrários àretirada dos brancos da reserva, ainda demonstram inconformismo com adecisão do Supremo Tribunal Federal e se emocionam ao acompanhar asaída de vizinhos.“É uma injustiça. Porque se o governo dessecondições para todas essas pessoas seria bom, mas não dá. Só seimportam com  a retirada e tem família saindo para ficar na casa de umou de outro. Então, fica uma revolta e uma dor de perder pessoas quenunca quiseram sair de dentro do Surumu”, afirmou, chorando, atuxaua [cacique] da comunidade do Surumu, Elielva dos Santos, da etnia Macuxi,  enquanto observava famílias preparando suas mudanças.     “Estamos vendo um sofrimento desnecessário aqui”, completou o índio José Brazão, um dos coordenadores da Sodiu-RR.SegundoElielva, a Sodiu-RR nunca foi ouvida pelas autoridades com atençãodurante o processo que resultou na demarcação da reserva em faixacontínua. Integrantes de famílias indígenas trabalhavam nas fazendas dearroz e outras famílias de agricultores brancos nasceram e foram criados naVila Surumu. Essa parcela dos índios, evengélicos, tem divergências históricas com os parentes ligados ao ConselhoIndígena de Roraima (CIR), católicos e entusiastas da demarcaçãocontínua. Agora terãode chegar a um consenso quanto à exploração da área de 1,7 milhão dehectares. Mas não será fácil. Feridas seguem abertas e o risco deconflitos entre as comunidades é admissível. “Acho que é agoraque a Raposa vai ficar em guerra. Não tem mais branco para levar aculpa. O CIR não concorda com a ideologia da Sodiu-RR e não saberespeitar a nossa opinião. Mas nossas comunidades não vão aceitar queeles cheguem impondo as coisas, ditando as regras”, afirmou Elielva. Brazão,o coordenador da Sodiu-RR, ressaltou que as comunidades ligadas àentidade têm planos imediatos para intensificar a produção agrícola demacaxeira, melancia e outros alimentos, inclusive com estrutura  detransporte para viabilizar a comercialização nas cidades. Ele desdenhada capacidade do CIR de implantar algum projeto positivo na reserva. NoCIR, a direção prefere adotar um discurso diplomático. Reitera asatisfação com a decisão do STF, sob o argumento de que a culturaindígena será mais preservada e desenvolvida após a saída dos brancos.Em relação à Sodiu-RR, a promessa é de que haverá um esforço para por fim às divergências. “Acho que isso [as diferenças ideológicasentre as entidades] vai mudar. Nossos parentes vão entender que ofuturo da Raposa Serra do Sol será melhor para todo mundo”, argumentouMartinho Macuxi, coordenador do CIR.