Ivan Richard
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O quinto ano da morteda missionária norte-americana Dorothy Stang será lembrado com adivulgação de várias cartas escritas por ela e de documentos queportava quando foi morta a tiros no município paraense de Anapu. Segundo freiras daCongregação de Notre Dame, da qual Dorothy fazia parte, o objetivoé cobrar o julgamento de um dos acusados de mandante do crime,ocorrido em 12 de fevereiro de 2005. Elas querem também chamar aatenção das autoridades para os conflitos de terra que aindaocorrem no Pará e para supostas fraudes em documentos para obtençãode financiamento públicos.“O que estamos tentando fazer,com os poucos recursos e o pouquíssimo conhecimento que temos, étrazer isso [as cartas da irmã Dorothy] a público e esperarque as autoridades se preocupem, façam uma investigação bem melhore esclarecedora”, disse à Agência Brasil a irmã RebecaSpires. “O combate à impunidade é nossa meta, nosso ideal, nossoesforço”, completou Rebeca, que trabalhou mais de 30 anos comDorothy.Segundo a religiosa, em seu trabalho pelos pobres,irmã Dorothy documentava todas as ações que fazia. Enviava cartasa representantes de vários órgãos na região, como o InstitutoNacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis(Ibama), muitas vezes escritas de próprio punho, para tentar fazervaler a lei e também evitar a destruição da floresta.“ADorothy não tinha a mesma meta que nós, de desvendar e quebrar essecrime organizado. A meta dela era colocar aqueles lavradores naterra, assim como o governo havia prometido em documento. Não sópromessas, mas colocá-los lá em paz”, argumentou Rebeca. “Eladenunciava cada infração. E eram muitas. Com aquela constanteperturbação, ela conseguiu a aplicação de multas e indiciamentos[a fazendeiros e grileiros]”, disse Rebeca. Para ela, esseteria sido o motivo da morte de Dorothy Stang. “Estamos convencidasde que isso que provocou a morte dela. Não era só o lote de terra.Era porque ela estava atrapalhando essa série de crimes que elescometeram. E a gente foi descobrindo, estudando a documentação queela nos deixou”, acrescentou.Em uma das cartas, escrita em19 de fevereiro de 2004, Dorothy denuncia às “autoridades desegurança pública”, que famílias do Lote 16, na Gleba Bacajá,em Anapu, estavam sendo ameaçadas por um madeireiro e por “homensarmados”.Segundo a carta, na ocasião, o fazendeiro estariatambém ameaçando trabalhadores de uma firma contratada pelo Incrapara fazer a demarcação dos projetos de desenvolvimento social(PDS) criados por Dorothy. “Ele já ameaçou os agrimensores dessafirma contratada pelo Incra para tirar os perímetros oficiais doPDS. Esses homens da firma saíram da mata para não morrer”, diz acarta. Irmã Rebeca disse que problemas semelhantes aindaocorrem na região, muitos deles, segundo ela, com apoio depolíticos. “Olha, é bastante complicado, por aquilo que as nossasirmãs que moram lá contam. Os pistoleiros rondam a área, aindaocorre desmatamento. O povo tomou a iniciativa de parar caminhões demadeira, o Ibama apareceu depois, porque o povo chamou. Mas uma açãoeficaz para deter a grilagem e a exploração ilegal da madeira nãoestá acontecendo por parte oficial”, afirmou. Ela informouque, como o dia 12, data da morte de Dorothy, coincidirá com operíodo de carnaval, as manifestações em homenagem à missionária,serão realizadas ainda nesta semana, em Anapu e em Belém. “EmAnapu, todos os anos, na data do aniversário, são realizadasmanifestações o dia inteiro, até noite adentro. Aqui na capital,haverá manifestação em frente ao tribunal [de Justiça doPará]. Haverá muitas manifestações.” Irmã Rebeca esperaque isso provoque também as autoridades a fazer sua parte. “Talveznão façam, porque a gente vai diretamente a eles, então a gentevai por fora também.”