Copom se reúne para definir a nova taxa Selic, nome quase desconhecido para o cidadão comum

31/08/2010 - 16h07

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A taxa Selic parece ser pouco conhecida por quem passa nos arredores do Banco Central (BC), onde começou hoje (31) mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que vai definir a nova taxa dos juros básicos da economia. Apesar de ter grande influência na economia e, por consequência, na vida financeira dos cidadãos, a taxa Selic estava longe de ser assunto de conversa do grupo de amigos reunido em volta do camelô Adalmir Ribeiro, 40 anos, em um quiosque ao lado do BC, na região central de Brasília.

Ribeiro até já ouviu falar na taxa Selic, mas não soube explicar do que se trata. “Estou perdido. Falta informação. Se houvesse informação, todo mundo iria ver e saberia o que significa. Para todo lado, você vê uma taxa diferente, vê juros aumentando”.

A funcionária de serviços gerais Laurita Mendes, 46 anos, que passava ao lado do BC, nunca ouviu falar da Selic. “Nem na televisão”, afirmou. Assim também respondeu o designer gráfico Anderson de Araújo, 41 anos: “Taxa Selic? Nunca ouvi falar. Você não vai me dizer o que significa?”, perguntou.

O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques explica que a taxa básica de juros, a Selic, é um instrumento para controlar a inflação. Quando a economia está aquecida, os consumidores têm dinheiro para gastar. Assim, a procura por bens e serviços aumenta e há dificuldade da indústria, do comércio e do setor de serviços de suprir esse consumidor na mesma proporção do aumento da demanda. Com isso, a tendência é de que preços aumentem, o que significa inflação. O Copom, então, eleva os juros para estimular a poupança e conter a expansão excessiva da demanda. O comitê também pode não mexer nos juros básicos quando acredita que o patamar da taxa é suficiente para gerar equilíbrio entre o que se produz, o que se compra e os preços praticados. Ou ainda reduzir a taxa Selic se o objetivo for aquecer o mercado consumidor e estimular a atividade econômica.

Os sinais analisados na hora de definir a Selic são os dados sobre a expansão da economia, a situação externa e os índices de inflação. Todo ano, o BC tem que perseguir uma meta de inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para 2010, a meta é de 4,5%, com limite inferior de 2,5% e superior de 6,5% (dois pontos percentuais para cima ou para baixo). O BC tem que atuar para que a inflação anual fique em torno do centro da meta.

Para 2010, a expectativa do mercado financeiro é que o IPCA fique perto de 5%. Neste ano, os analistas já esperaram por inflação mais alta, como no final de abril, quando a previsão para o IPCA chegou a 5,41%. Com a queda das expectativas de inflação e a redução no ritmo de crescimento da economia, a expectativa dos analistas para a reunião do Copom é de manutenção da taxa no atual patamar de 10,75% ao ano.

Newton Marques explica que conhecer o efeito da Selic é necessário não somente para as empresas, que precisam tomar decisões, mas também para os cidadãos. Ele lembra que a Selic é “o piso” das taxas de juros de operações como empréstimos e aplicações financeiras. Quando a Selic sobe, a tendência é de aumento dos juros cobrados nos financiamentos oferecidos pelos bancos, como empréstimos pessoais e crédito para compra de imóveis, automóveis e bens duráveis.

Vale lembrar que, além da Selic, outros aspectos são levados em consideração na definição dos juros cobrados pelos bancos para os empréstimos aos consumidores, como risco de inadimplência e os impostos cobrados pelo governo.

A Selic também é usada nas operações entre bancos e serve de referência para os empréstimos que o governo toma, por meio do lançamento de títulos públicos. Entender os efeitos dos indicadores econômicos é importante para fazer o planejamento de gastos, ensina o professor. Em situação de aumento de juros e de preços, os consumidores devem evitar consumo e empréstimos. Na avaliação de Marques, mesmo com a expectativa de manutenção da Selic, é hora de evitar gastos desnecessários, uma vez que é preciso aguardar qual será a política econômica adotada por quem ganhar as eleições para a Presidência da República, em outubro.

Edição: Vinicius Doria