Estados Unidos reconhecem morte de 83 guatemaltecos em estudo sobre sífilis

30/08/2011 - 8h37

BBC Brasil

Brasília - O governo dos Estados Unidos reconheceu ontem (29) a morte de 83 cidadãos da Guatemala, infectados na década de 40 com doenças sexualmente transmissíveis (DST), como sífilis e gonorreia, durante experimentos médicos. A pedido do presidente norte-americano, Barack Obama, foi criada uma comissão de inquérito para investigar o assunto.

Por telefone, Obama pediu desculpas ao presidente da Guatemala, Álvaro Colom, dizendo que os estudos contrariam os valores norte-americanos. No começo deste ano, vários cidadãos guatemaltecos infectados à época e parentes das vítimas anunciaram que estavam abrindo um processo contra o governo americano.

A comissão de inquérito norte-americana concluiu que cerca de 1,3 mil pessoas foram expostas às doenças. A comissão reconheceu que os cientistas americanos infectaram prisioneiros, pacientes psiquiátricos e órfãos guatemaltecos em estudos que testavam a abrangência do uso da penicilina.

A presidente da comissão de inquérito norte-americana, Amy Gutmann, classificou o estudo como “um pedaço vergonhoso da história médica”. Um relatório deve ser publicado em setembro com as conclusões finais sobre o caso.

No total, um grupo de 5,5 mil pessoas participaram dos estudos, sem saber dos riscos que corriam, segundo declarações de um dos investigadores, Stephen Hauser. Na relação dos infectados, apenas 700 receberam tratamento médico. Ao fim, 83 morreram.

A sífilis pode causar cegueira, distúrbios mentais e até a morte, caso os doentes não recebam o devido tratamento. Menos nociva e mais fácil de curar que a sífilis, a gonorreia pode se espalhar pelo organismo e até causar infertilidade nos homens.

A história dos experimentos americanos na Guatemala veio à tona no ano passado, fruto de uma pesquisa histórica da professora Susan Reverby, do Wellesley College, de Massachusetts. Segundo a acadêmica, o governo guatemalteco da época deu permissão aos estudos, que ocorreram entre 1946 e 1948.

Os cientistas usaram prostitutas portadoras da sífilis e fizeram inoculações nos pacientes para determinar se a penicilina também poderia evitar a doença, e não apenas curá-la. Na ocasião, o presidente Colom classificou os estudos como “crime contra a humanidade” por parte dos Estados Unidos.