Apoio do BNDES não atende necessidade de investimentos de pequenas e médias livrarias, diz associação

31/08/2011 - 8h24

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - As medidas de apoio ao mercado editorial brasileiro, implantadas pelo governo em 2005 e absorvidas em 2009 pelo Programa para o Desenvolvimentoda Economia da Cultura (Procult), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), resultaram na aprovação para as empresas do setor de R$ 190,5 milhões. Desse montante, já foram desembolsados R$ 50,2 milhões, informou a assessoria de imprensa do BNDES.

Cerca de 1.316 micro, pequenas e médias editoras e livrarias têm o Cartão BNDES para a compra de produtos e equipamentos pelo portal do banco na internet, com limite de crédito de R$ 74,1 milhões. Nos últimos 12 meses, essas empresas realizaram 2.342 operações com o cartão, no valor de R$ 27,6 milhões, sendo 1.166 para aquisição de insumo (papel) para impressão de livros, no valor de R$ 14,6 milhões. De acordo com dados da assessoria técnica do BNDES, esses recursos contribuíram para a impressão de 3,7 milhões de livros.

Para a Associação Nacional de Livrarias (ANL), que realiza até hoje (31) no Rio sua 21ª Convenção Nacional, a linha de crédito oferecida pelo BNDES para o mercado, com valor mínimo de R$ 1 milhão, está sendo utilizada por livrarias que têm projetos de maior envergadura, como as grandes redes, mas não atende às pequenas e médias empresas do setor.

Segundo o vice-presidente da ANL, Guto Kater, isso ocorre porque um terço do segmento, formado por pequenas livrarias, “não chega a faturar R$ 1,2 milhão por ano, ou seja, fatura menos de R$ 100 mil por mês. Eles não têm  condições de pegar uma linha de crédito para investir em uma loja R$ 1 milhão”. A ANL está procurando sensibilizar o BNDES para que trabalhe com concessão de crédito a partir de R$ 300 mil, de modo que os pequenos e médios livreiros possam investir em modernização e expansão.

Outro tema em destaque na Convenção Nacional de Livrarias é o livro digital. “Se os pequenos e médios livreiros não se mantiverem no mercado atentos e abertos a acolher as  novas tecnologias, o livro digital pode ser uma ameaça, porque algumas grandes redes já estão trabalhando com isso”. Guto Kater lembrou, porém, que é possível conciliar o livro digital com o livro físico, em papel.

Para ele, as livrarias devem se conscientizar que o importante não é só vender  livros em papel, mas o conteúdo que está por trás disso. Kater acredita que os dois meios de comunicação podem conviver em harmonia. O livro digital não irá substituir o livro impresso, disse. Ao contrário das novas tecnologias, que mudam a todo momento, o livro em papel não tem o receio de ficar obsoleto, acrescentou.

O vice-presidente da ANL disse ainda que o mercado acredita que o livro digital não substituirá o livro físico. “Será uma tecnologia complementar que vai conviver bem. Mas nós, livreiros, precisamos estar abertos para acolhê-lo e, por que não, revendê-lo. Esse é o nosso papel”.

Guto Kater informou que dois terços dos municípios brasileiros não têm livrarias. “É preciso estimular empreendedores de pequenas cidades a desenvolverem o mercado. Porque, além de serem comércio, elas (livrarias) têm um papel social, são fonte de cultura e fundamentais em um país que está em desenvolvimento, como o nosso, e quer continuar crescendo”.

Levantamento feito pela ANL mostra que o faturamento do setor cresceu 9,6% no ano passado. A expectativa é que 2011 seja melhor, disse Kater. “O mercado está otimista. A gente percebe que as classes C e D estão lendo mais. Está havendo uma popularização da leitura no país”.

Ele confia que, com a abertura de novas livrarias no país, a expansão do setor tende a continuar no mercado editorial, seja no segmento de livros como produção editorial, seja na venda pelas livrarias. “É um segmento emergente na nossa economia”.

Edição: Graça Adjuto