Defensores de direitos humanos são ameaçados de morte há mais de dez anos em Goiás

26/09/2011 - 22h38

Daniella Jinkings
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Há mais de dez anos, defensores de direitos humanos de Goiás sofrem ameaças de morte por integrantes de grupos de extermínio. Mas as ameaças foram intensificadas após a Operação Sexto Mandamento da Polícia Federal (PF) que desarticulou uma organização criminosa composta por policiais militares em fevereiro. Para avaliar a situação do estado e cobrar providências do governo estadual, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados fez hoje (26) uma audiência pública.

A comissão ouviu depoimentos de militantes ameaçados, como o diretor da Casa da Juventude, padre Geraldo Labarrére. Ele, que faz trabalhos com crianças e adolescentes de baixa renda, terá de deixar Goiânia após várias ameaças de morte. Segundo o padre, a raiz desse tipo de violência feita pelos grupos de extermínio é cultural. “Há a cultura de que pobres e negros não são gente. É muito difícil a polícia reagir. Ou a gente fala que não pode matar, ou então não há saída.”

A comissão discutiu, além das providências para garantir a integridade física do religioso, a continuidade de inquéritos e processos judiciais contra policiais envolvidos em grupos de extermínio, desaparecimento forçado, ameaças e outras violações de direitos humanos. Outro ponto tratado, foi a federalização do caso e a criação da Defensoria Pública Estadual. “A federalização é um dos elementos que ajudariam e dariam maior liberdade de investigação”, disse o padre Geraldo.

A Operação Sexto Mandamento prendeu 19 policiais envolvidos em homicídio de crianças, adolescentes e mulheres. Eles são acusados de ameaças, extorsões e execuções de pessoas que vivem na periferia de Goiânia e cidades próximas.

De acordo com a coordenadora da Comissão de Defesa da Cidadania do Estado de Goiás, Adriana Accorsi, exitem cerca de 50 casos de desaparecimentos que ainda estão sendo investigados. Ela acredita que a situação piorou com a operação da PF. “Se, por um lado, temos prisões efetuadas e investigações em andamentos, por outro, temos o exacerbamento do sentimento dos policiais e dos simpatizantes da cultura de violência policial contra aqueles, para eles, motivaram a operação”.

A comissão da Câmara deve propor ao governo de Goiás a adoção de medidas estruturais contra a impunidade nos crimes de extermínio, além de ações de educação e cultura em direitos humanos na formação dos agentes públicos de segurança pública.

 

Edição: Aécio Amado