Número de pessoas em busca de doações nas ruas de Brasília aumenta no período de fim de ano

31/12/2011 - 11h20

Ivan Richard
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A capital federal ostenta o título de cidade mais rica do Brasil, tendo o Produto Interno Bruto (PIB) per capita equivalente a R$ 50 mil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Toda essa riqueza contrasta, a cada final de ano, com o movimento migratório de centenas de pessoas em busca de ajuda por meio de doações.

Alojada sob uma barraca coberta apenas por lona de plástico às margens de uma das principais vias da capital do país, a diarista Luciene da Silva, de 42 anos, vive a expectativa de dias melhores ao lado do marido, de dois filhos e dos netos. Moradora de São Sebastião, Luciene é uma das centenas de pessoas que deixam suas casas no fim do ano para montar tendas na região central da cidade na tentativa de conseguir mais dinheiro.

Com a água de casa cortada há cinco meses, ela sonha em conseguir, nos próximos 365 dias, pagar as contas atrasadas e comprar uma televisão. “Gostaria muito de ter uma televisão. É o sonho dos meus netos”, disse a diarista.

Apesar do movimento migratório ocorrer todos os anos, o governo do Distrito Federal não tem dados sobre a quantidade de pessoas que se alojam nesta época do ano às margens das vias em busca de ajuda.

Desempregado há três anos, Emerson Luiz de Souza, deixou sua casa no Sol Nascente, a 45 quilômetros de Brasília, em busca de doações. Abrigado precariamente, há pouco mais de um mês, com a esposa e duas filhas no final da Asa Norte (região central da capital), ele disse acreditar que o espírito do Natal faz com que as pessoas olhem mais para o próximo. “As pessoas ficam mais sensíveis”, afirmou.

Brinquedos, roupas e alguns mantimentos o que ele e a família receberam durante os dias em Brasília. Para 2012 o desejo é voltar a trabalhar com a carteira assinada. “Quero um emprego. Sem dúvida um emprego. Ninguém gosta de ficar aqui. Se viemos é porque não temos condições”, lamentou.

Ao lado da barraca montada por Emerson, vive a baiana Luiza da Conceição. Ela e o marido deixaram os seis filhos no município de Santa Maria da Vitória (BA) há mais de um mês. Aproveitaram a consulta médica do marido, que quebrou uma das pernas, para tentar receber doações. “Para o ano que vem eu peço a Deus que abençoe minha família e as pessoas que nos ajudam. Mas queria também uma ajuda para comprar o telhado da minha casa na Bahia. Ela não tem teto e a chuva está acabando com a obra que a gente conseguiu fazer. Juntamos um dinheiro, mas está tudo indo embora”, disse, sem perder a fé. “Tenho certeza que Deus proverá.”  

Já a pernambucana Rosa Maria dos Santos é moradora de rua em Brasília há 28 anos. Recolhendo materiais recicláveis, ela sustenta sozinha os quatro filhos com cerca de R$ 150 por mês. Ao lado de outras famílias, em uma espécie de acampamento de barracas feitas de papelão e plástico localizado próximo ao Palácio do Planalto, ela se emociona ao falar dos sonhos para 2012. “O que eu queria mesmo era sair daqui. Ter uma casa em qualquer outro lugar para cuidar melhor dos meus filhos.”

Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda do Distrito Federal informou que equipes realizam abordagens nos locais onde permanece a população em situação de rua. O objetivo é “aproximar-se, viabilizar o acesso a seus direitos, promover a inclusão social e estabelecer vínculo para construção de novos projetos de vida”.

“As equipes observam o local, analisam as relações que a população em situação de rua estabelece com o local de permanência e atuam com o Centro de Referência em Assistência Social (Cras) e o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas), ofertando seus serviços e promovendo o diálogo com a comunidade local (comerciantes, moradores, igreja, ONGs)”, diz trecho da nota.

Segundo a secretaria, 2.365 pessoas vivem na rua no Distrito Federal. O órgão estima que o crescimento no quantitativo da população em situação de rua no DF ocorra nos últimos meses do ano devido ao crescimento das doações. O governo local recomenda que a população evite doar mantimentos nas ruas e procure instituições que trabalham com pessoas carentes.

 

 

Edição: Lílian Beraldo