Comunidade do Novo Pinheirinho, em Brasília, vive tensão de negociar permanência na área ocupada

07/05/2012 - 19h25

Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A audiência de conciliação entre militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e do governo do Distrito Federal (GDF) para discutir a desocupação de uma área pública invadida na Ceilândia, cidade-satélite localizada a cerca de 30 quilômetros de Brasília, não amenizou a tensão no local. Auto-intitulada Ocupação Novo Pinheirinho, a comunidade de 1,3 mil moradores tem prazo judicial até 20 de maio para saída voluntária do local.

O prazo foi ampliado no último dia 5 pelo juiz titular da Vara do Meio Ambiente do Distrito Federal, Carlos Divino Vieira Rodrigues, após o prazo inicial oferecido para desocupação ter vencido no dia 4. Foi marcada, também, uma audiência de conciliação para o dia 15 de maio. A comunidade passou a ser chamada de Ocupação Novo Pinheirinho, “em solidariedade às famílias e à revolta ocorrida em São Paulo” segundo suas lideranças.

O coordenador do MTST, Renato Rocha, em entrevista à Agência Brasil, afirmou que enfrenta dificuldade de diálogo com o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. “É difícil acreditar que o governo no qual a gente votou para nos representar esteja virando tanto as costas para a gente. Há dois anos estamos tentando negociar, desde que fizemos uma ocupação em Brazlândia”, disse o militante.

“Se nada acontecer na audiência do dia 15, vamos permanecer aqui. Que derrame sangue e que rolem cabeças. Estou disposto a morrer, mas pelo que é certo”, disse Renato Rocha. Ele lamenta que o governador esteja deixando de cumprir uma de suas principais promessas de campanha, a de “criar um programa habitacional decente”. E completa: “Nada foi feito. A gente gostava do Agnelo, mas ele está querendo destruir nossas famílias”.

Segundo o dirigente do MTST, as negociações acertadas com o GDF sequer foram mantidas. O problema, segundo ele, é que o GDF não cumpriu o prometido na época, que foi pagar seis meses de auxílio-aluguel e, depois, colocar as famílias em um terreno provisório até que as casas definitivas fossem construídas.

“Com dois meses, nosso auxilio foi cortado. Tentamos retomar a negociação desde abril, porque as famílias nos cobraram isso, mas o GDF tem se recusado a negociar, dizendo que ninguém aqui tem perfil para ser atendido nem pelo Minha Casa, Minha Vida nem pelo programa de habitação do GDF [Morar Bem]”, disse Rocha.

O coordenador do MTST argumenta que a prestação do Minha Casa, Minha Vida, de R$390, “é muito alta” para os membros da comunidade, já que a maioria recebe apenas salário mínimo e tem outros gastos com a família. “Não queremos o terreno de graça. Queremos pagar por ele, mas um preço justo e dentro das nossas condições. E, ao contrário do que diz o GDF, queremos, sim, contribuir para o crescimento organizado da cidade”, completou o coordenador.

Consultada pela Agência Brasil, a Secretaria de Comunicação do GDF informou que, na época em que aconteceu a ocupação em Brazlândia, equipes foram enviadas para dialogar com as 300 famílias. Como resultado, todas foram cadastradas para o auxílio, mas apenas oito delas preenchiam os critérios do Minha Casa, Minha Vida e do Morar Bem.

As demais, ainda segundo o GDF, não foram contempladas principalmente por terem renda maior do que a prevista pelo programa ou por possuir outros imóveis. Além disso, o GDF garante não ter prometido que o auxílio-aluguel teria duração de seis meses, já que o máximo previsto para esse tipo de benefício é de apenas dois meses.

Edição: Davi Oliveira