Governo deverá aceitar inflação maior para manter juros baixos, dizem especialistas

08/09/2012 - 16h14

Mariana Branco e Wellton Máximo
Repórteres da Agência Brasil


Brasília – A redução de juros como forma de manter a economia aquecida encontrou uma barreira. O comportamento da inflação, que voltou a subir em agosto, ainda não chegou a representar uma ameaça. No entanto, segundo especialistas ouvidos pela Agência Brasil, o governo deverá se ver diante do risco de aceitar preços mais altos para evitar que a atividade econômica desacelere.

Mesmo com as pressões inflacionárias, os economistas defendem a manutenção da política monetária, que reduziu a Selic, taxa básica de juros, para o menor nível da história. Eles acreditam que a recuperação econômica resultante das medidas de estímulo compensará a alta da inflação. Isso porque o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá fechar o ano abaixo de 2011, quando atingiu 6,5% e bateu no teto da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Em agosto, o IPCA subiu e atingiu 0,41%, acima do 0,37% registrado no mesmo mês de 2011. Nos últimos 12 meses, o índice está em 5,24%, pouco acima dos 5,2% observados nos 12 meses anteriores. O valor está acima das estimativas do mercado. Segundo o último boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgadas pelo Banco Central, o IPCA deverá fechar 2012 em 5,2%.

O economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que as estimativas para o fechamento da inflação este ano já estiveram abaixo de 5%. Ele aposta que o IPCA ficará em torno de 5,5% ao fim de 2012, mas diz que esse nível não ameaça o poder de compra das famílias. “O que não dá para admitir é acima de 6,5%, teto da meta, pois aí os mecanismos começam a se fragilizar e combater o processo inflacionário fica difícil”, declara.

André Braz ressalta que os reajustes salariais têm ficado acima da inflação, o que assegura a manutenção do poder aquisitivo. “Uma referência é o salário mínimo, que tem apresentado aumentos reais, acima da inflação acumulada. No ano passado, subiu 14%, com inflação de 6,5%. Hoje está em R$ 622 e estão querendo aumentar em torno de 8%. A inflação com certeza ficará abaixo disso”, comenta.

Para André Braz, as medidas tomadas pelo governo para prevenção dos efeitos da crise – redução dos juros, câmbio favorável às exportações e desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) – ainda não se fizeram sentir com força total, mas devem surtir efeito no médio prazo. “Decisões levam um tempo para fazer seu papel na economia real. A redução [de juros] de nove meses atrás está chegando agora ao mercado. A preocupação maior é manter o emprego, a renda das famílias, ainda que haja um risco”, diz.

O economista Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), também considera o movimento de queda dos juros salutar para a economia. “Na crise, mais importante do que a inflação é preservar empregos, não deixar ter recessão. Depois que [o país] crescer, o governo deve voltar a se preocupar com a inflação”, avalia.

Assim como André Braz, ele atribui a lentidão de setores da economia em reagir aos estímulos a um tempo de maturação necessário para que as medidas surtam efeito. “É um processo gradativo, o número de investimentos caiu em função da crise. A expectativa é que no segundo semestre comece a melhorar, e vejamos um resultado pleno só no ano que vem”, acredita.

 

Edição: Lílian Beraldo