Presidente interino da Sanepar nega lançamento de esgoto não tratado em rios do Paraná

20/09/2012 - 21h48

Fernando César Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Curitiba – O diretor administrativo da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), Antonio Hallage, negou em entrevista coletiva que as estações de tratamento da empresa lancem esgoto não tratado nos rios paranaenses. A acusação foi feita pela Polícia Federal (PF), que hoje (20) cumpriu 30 mandados de busca e apreensão em unidades da Sanepar localizadas em 19 cidades do estado.

"Podem ocorrer vazamentos, como ocorre em qualquer empresa do mundo. Mas nós tratamos todo o esgoto que recebemos", disse Hallage, que ocupa interinamente o cargo de presidente da Sanepar. "Fomos surpreendidos esta manhã com a ação policial [da PF]. Estamos indignados. A Sanepar não é a responsável pela poluição dos rios do Paraná."

Denominada Operação Iguaçu – Água Grande, a investigação tem o apoio de servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Conforme o delegado Rubens Lopes da Silva, da Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente da PF, a Sanepar é a maior empresa poluidora dos rios do estado. "Ou ela [Sanepar] não trata o esgoto que coleta, despejando-o de forma clandestina nos rios, ou então ela faz o tratamento de forma inadequada", declarou o delegado, que coordena a investigação.

Antonio Hallage criticou a forma como a PF divulgou a operação e chegou a insinuar um possível uso político da corporação. "Estranhamos a divulgação exagerada e o fato de a operação ter sido realizada mesmo com a greve, e às vésperas da eleição municipal."

Segundo o dirigente da Sanepar, os documentos que a PF apreendeu são de caráter público e poderiam ter sido solicitados "até por e-mail". Embora tenha dito que as estações de tratamento da Sanepar cumpram a legislação, o presidente interino da empresa admitiu que 12 das 227 unidades ainda não têm licença ambiental de funcionamento, o equivalente a 5,3% do total. "As que não têm licença estão com os respectivos pedidos já protocolados." Para a PF, o percentual de estações sem licença é superior a 20%.

Perguntado pela Agência Brasil se a Sanepar pode ter sido autuada em até R$ 80 milhões nos últimos dez anos, como informou a PF, Hallage respondeu que "pode ser", sem entrar em detalhes sobre quantas multas foram pagas ou estão em fase de recurso. Hoje a empresa recebeu mais quatro autuações do Ibama que, juntas, preveem multa diária de R$ 200 mil até que a empresa regularize os problemas apontados nas estações.

A Sanepar diz que irá recorrer contra as multas no âmbito administrativo e ao Poder Judiciário, se for preciso. A empresa também cogita a possibilidade de vir a processar o delegado que coordena a investigação. "A Sanepar tomará todas as providências jurídicas para restabelecer a verdade dos fatos, inclusive acionando criminalmente o autor das declarações caluniosas que atacaram a imagem da empresa", disse Hallage. "Essa investigação deveria estar ocorrendo sob segredo de Justiça."

Dois diretores da Sanepar prestaram depoimento hoje na sede da Superintendência Regional da Polícia Federal no Paraná, em Curitiba. Ao todo, 30 diretores e gerentes da companhia foram indiciados pela PF. Além da Sanepar, mais 180 empresas serão investigadas por despejar poluentes nos rios do Paraná.

 

Edição: Aécio Amado