Acordo entre comissões ajudará a esclarecer morte de Anísio Teixeira, diz filho do ex-reitor

06/11/2012 - 16h19

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O acordo de cooperação firmado hoje (6) entre a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão da Verdade da Universidade de Brasília (UnB), que viabilizará a troca de documentos e informações entre os dois organismos para investigar a morte do educador Anísio Teixeira, vai ajudar a resgatar um importante capítulo da história e da memória do país. A avaliação foi feita pelo filho do educador, Carlos Teixeira, ao participar de audiência pública na UnB em que foi formalizado o acordo.

Segundo Teixeira, que encaminhou às duas comissões um dossiê sobre o assunto produzido pela família, há “evidências muito indicativas” de que a morte de Anísio Teixeira, em 1971, foi um crime político, e não acidental, como aponta a versão oficial. O corpo do educador foi encontrado no poço do elevador do prédio do amigo Aurélio Buarque de Holanda, no Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro.

“Estamos extremamente entusiasmados porque, na época em que ele morreu, não víamos nenhum caminho para uma investigação de caráter político e agora temos caminhos viáveis para esclarecer as circunstâncias da morte e separar a suspeita de assassinato da versão de acidente”, disse o filho do ex-reitor da UnB.

Carlos Teixeira, que tinha 28 anos quando o pai morreu, informou que no dossiê há depoimentos de integrantes das Forças Armadas e de médicos que participaram da autópsia, entre outros, reforçando a hipótese de assassinato. Ele tinha dois traumas violentos, incompatíveis com a tese de morte acidental, disse Carlos. "Além disso, era preciso que o corpo, ao cair do elevador, tivesse passado por um espaço de menos de um palmo e por duas vigas.”

De acordo com Carlos Teixeira, os dois elementos, somados ao "clima da época", levam à "suspeita absoluta de que a morte não foi acidental”. “Cair de elevador é algo muito comum, mas não nas circunstâncias que foram descritas e com as lesões que ele teve. Isto é algo surrealista, que foge de qualquer consistência”, destacou.

Carlos Teixeira enfatizou que a família desconhecia a existência de ameaças concretas direcionadas ao Teixeira, mas admitiu que o pai chegou a comentar com amigos que recebia “insinuações” por telefone.

A Comissão da Verdade da Universidade de Brasília foi criada em agosto e, na solenidade em que foi instalada, veio a público a versão admitida pela família de Anísio Teixeira, segundo a qual o ex-reitor da UnB foi assassinado em março de 1971 por agentes do Estado. De acordo com esta versão, Teixeira sofreu tortura e foi encontrado com vários ossos quebrados e traumatismo na cabeça e no ombro, devido a pancadas com objeto de forma cilíndrica, possivelmente feito de madeira.

Considerado um dos maiores educadores brasileiros, Anísio Teixeira nasceu em Caetité, no sertão da Bahia. Na década de 1960, junto com Darcy Ribeiro, foi um dos mentores da UnB, fundada em 1961, e tornou-se seu reitor em 1963. Em 1964, teve o mandato cassado durante o golpe militar, mudou-se para os Estados Unidos, onde deu aulas, e retornou ao Brasil anos depois, para cumprir mandato no Conselho Federal de Educação. Teixeira morreu em 1971.

Edição: Nádia Franco