Especialista condena automedicação para pacientes com dor crônica

13/01/2013 - 12h04

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A automedicação de pacientes com dor crônica é uma prática que deve ser evitada pelos riscos que acarreta, ressaltou em entrevista à Agência Brasil o médico José Ribamar Moreno, especialista em dor e coordenador do Centro de Tratamento Intensivo da Dor (CTIDor), no Rio de Janeiro. A dor crônica prolonga-se no tempo. Se ela ultrapassa seis meses, o tratamento não deve ser baseado somente em medicação, quanto mais aquela feita de forma aleatória.

O ideal, segundo Moreno, é que a medicação para esses pacientes seja usada dentro de um tratamento mais  completo. “Porque as causas da dor crônica, em geral, são multifatoriais. Elas envolvem aspectos da própria doença, como hérnia de disco, no caso de dor na coluna, bem como aspectos da reabilitação, ligados à redução da qualidade de vida provocada pela falta de exercícios e sobrepeso. Uma série de coisas que têm de ser corrigidas”.

Se a pessoa usar a medicação como única forma de tratamento, pode acabar tendo efeitos colaterais. E o tratamento será ineficiente. “A medicação usada sem orientação apresenta risco muito alto”, reiterou. No caso da dor de cabeça (cefaleia), que é uma das dores crônicas mais frequentes, Moreno disse que a automedicação pode acabar piorando o quadro e transformar uma doença primária em cefaleia relacionada aos medicamentos.

Segundo o especialista, anti-inflamatórios usados sem o controle adequado e em doses incorretas podem provocar gastrite, sangramento digestivo, doenças no intestino, insuficiência renal, principalmente em idosos. Alguns analgésicos podem provocar hepatopatias, isto é, doenças no fígado. Os pacientes podem apresentar tonteiras, desequilíbrio, náuseas, desidratação, relatou.

“A medicação, principalmente no tratamento da dor crônica, tem que ser feita de forma bem orientada, por um profissional que acompanhe o paciente, se responsabilize e possa tomar medidas contra os efeitos colaterais”. São medidas preventivas para que os efeitos colaterais não aconteçam, o que não é possível na automedicação. “Daí que a gente desaconselha de forma veemente [o uso] de medicação aleatória para o tratamento da dor crônica”.

O tratamento para a dor crônica é muito diferente do que se pratica na medicina convencional, ou biomédica, para outros tipod de doença. No caso da dor crônica, é necessário interferir em várias áreas ou dimensões do ser humano. “Porque o grande problema da dor crônica é o impacto que ela tem na qualidade de vida do paciente. Então, o que a gente faz é tratar o ser humano por inteiro”.

Esse modelo de tratamento é chamado biopsicossocial, porque além de tratar o corpo, a mente e o ambiente também são tratados. “O tratamento de especialidade não funciona para a dor crônica. Por isso, a maioria dos centros no mundo inteiro faz o tratamento multidisciplinar. Ou seja, em uma única clínica o paciente tem a abordagem para todos os problemas, de maneira planejada, de forma a ter a otimização do tempo, redução de custo e maior resultado”.

José Ribamar Moreno destacou a importância da reabilitação de pacientes com dor crônica, paralelamente ao tratamento com medicação, uma vez que parte da dor decorre de uma deficiência que o paciente desenvolve. A transformação na vida e no comportamento do paciente contribui para que ele restaure essa função cerebral conhecida como neuro-modulação, que acaba ficando precária em função da dor.

Uma vida mais ativa, somada à melhoria do sono, à redução do nível de estresse, a uma dieta com proteção intestinal e a técnicas que melhorem a qualidade do pensamento, são elementos que podem minimizar os efeitos da dor crônica, disse o especialista.

Edição: Tereza Barbosa

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