Diagnóstico falho ou tardio para autismo é comum

02/04/2013 - 8h45

Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Uma criança que não se relaciona bem com as outras e que não atende aos chamados dos pais apresenta características semelhantes às do autismo, mas esse isolamento pode significar outros problemas, alerta a psicomotricista Eliana Rodrigues Boralli Mota. Na Associação dos Amigos da Criança Autista (Auma), uma entidade sem fins lucrativos localizada na zona norte da capital paulista, Eliana atendeu, por exemplo, uma criança diagnosticada como autista, mas que sofria, na verdade, de deficiência auditiva.

Desde que fundou a Auma, há 25 anos, Eliana já orientou muitos pais que receberam diagnóstico errado de seus filhos. Um dos alunos atualmente atendido pela associação chegou com diagnóstico de autismo e de surdez e por isso usava um aparelho auditivo. A psicomotricista conta que suspeitou do diagnóstico e descobriu que ele não tinha problema auditivo algum. “O aparelho só sacrificava a vida da criança, tornava o mundo [mais] barulhento, infernal para ele, [já que] usava o aparelho sem necessidade”.

A diretora da entidade, Rosy Pomeranclblum, lembra-se de como foi difícil a chegada do garoto à associação. “Ele chegou aqui nervoso, enlouquecido, usando o aparelho auditivo. Imagina ampliar os sons [e sem ser surdo]”. Segundo ela, é muito difícil o diagnóstico de autismo e os próprios psiquiatras têm dificuldade.

Além da surdez, explica Eliana, o autismo pode ser confundido com outras síndromes, traumas ou psicoses. Segundo ela, não existe nenhum exame clínico que diagnostique o transtorno de forma segura. “O diagnóstico é baseado na observação comportamental. Há uma relação de características que determinam se a pessoa é ou não portadora de Transtorno Invasivo de Desenvolvimento [TID], em que o autismo está inserido”.

Outro problema é a demora em reconhecer o autismo. Carlos Roberto Aragão, supervisor de almoxarifado, tem um filho autista de 10 anos chamado Diego. Ele conta que teve ajuda da associação para chegar ao diagnóstico. “No início, eu percebia que ele era diferente das outras crianças, porque não se enturmava. Ele ficava sempre separado, brincando sozinho”.

Para tentar ajudá-lo a interagir com outras crianças, Carlos matriculou o filho em uma escola regular, quando tinha 3 anos de idade. O menino ficou ali por um ano, mas o ensino não surtiu efeito e os professores também não perceberam os sinais de autismo. Com 4 anos, ele foi levado à Auma, onde foi orientado, recebeu o diagnóstico correto e passou a frequentar as aulas.

Hoje, Carlos avalia que o desenvolvimento do filho tem avançado, ainda que de forma lenta. “É tudo muito demorado, muito lento. Quando você convive diariamente, se acostuma, é difícil perceber [o desenvolvimento]. Mas tem gente que viu ele há algum tempo, vê agora [e percebe] muita diferença”.

A própria Eliana já passou pelo sofrimento de receber o diagnóstico. Ela tem uma filha de 27 anos, a Natália, que é autista. “Nesse dia, eu morri. Morri por um ano. Tive a sensação de que o mundo tinha desabado e eu não conseguia sair de debaixo dos escombros. Chorei muito, fiquei deprimida e  só continuo existindo porque o amor que tenho pela minha filha é e sempre será maior do que a dor que sinto”.

Ela também precisou enfrentar a dificuldade de obter o diagnóstico correto para Natália. “Naquela época, o diagnóstico ainda era uma coisa assombrosa, difícil de se alcançar”, recorda. Atualmente, o encaminhamento para o diagnóstico pode ser feito por pediatras, neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos e educadores. O laudo de autismo para finalidades jurídicas, porém, pode ser emitido apenas por médico psiquiatra.

Edição: Tereza Barbosa

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