Policiais são presos em São Paulo suspeitos de participar de grupo de extermínio

24/04/2013 - 23h27

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Dois policiais militares, um sargento e um soldado estão presos preventivamente acusados de fazerem parte de um grupo de extermínio que atua nas cidades de Carapicuíba e de Osasco. Eles estão presos na Corregedoria da Polícia desde sábado (20), onde devem permanecer até amanhã (25), quando vence o prazo de cinco dias da prisão preventiva.

Em entrevista coletiva concedida no final da tarde de hoje (24), na sede da Secretaria de Segurança Pública em São Paulo, o delegado-geral de Polícia Civil, Luiz Mauricio Souza Blazeck, e o comandante-geral da Polícia Militar, Benedito Roberto Meira, não confirmaram a existência de grupos de extermínio dentro das corporações, mas disseram que têm indícios contra os dois policiais para pedir a prisão temporária, o que ainda não foi feito. A identidade dos policiais não foi revelada, segundo Blazeck e Meira, para não prejudicar as investigações.

Além dos dois policiais, um vigilante noturno também foi preso em Carapicuíba acusado de participação no mesmo grupo. Os três, além de mais um vigilante noturno que ainda não foi preso, estão sendo investigados por participação em ataques na noite do dia 17 de abril, em Osasco e Carapicuíba, quando várias pessoas foram baleadas e quatro morreram. Os feridos disseram à polícia que os tiros foram dados por dois homens em um carro modelo Vectra de cor prata.

Com os policiais foram encontradas toucas ninja e munições compatíveis com as que foram usadas nos crimes. Também foram encontradas munições que não são compatíveis com as armas que eles fariam uso na Polícia Militar. “Instauramos um inquérito policial militar e, em razão desse inquérito, solicitamos mandados de busca e apreensão na residência desses policiais, o que ocorreu no último sábado. Foram encontrados vários objetos que motivou a levá-los para a Corregedoria da Polícia Militar”, disse Meira.

Segundo Meira, um terceiro policial também foi preso, mas por não haver indícios de sua participação nos crimes, foi liberado no mesmo dia. Além das residências dos policiais, também foram feitas buscas e apreensões nos armários deles, nos locais onde trabalham.

Para apurar as mortes em Osasco e Carapicuíba foi criada uma força-tarefa com a participação de 12 delegados, além de diretores do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). “Nós trabalhamos com o esclarecimento de cinco casos de relevância que ocorreram na região de Osasco e Carapicuíba. Se esses suspeitos [os dois policiais militares] participaram de todos, isso não é conclusivo, mas sabemos que eles participaram pelo menos dois casos”, disse Blazeck, ressaltando que todos os casos serão investigados.

Além das mortes ocorridas em Carapicuíba e Osasco, a força-tarefa também investiga a suspeita de participação de policiais em diversas mortes ocorridas em Guarulhos. Entre março de 2011 e janeiro deste ano, sete inquéritos policiais envolvendo ataques em Guarulhos, com a morte de nove pessoas, foram concluídos.

“Estão sendo imputadas as autorias e há policiais envolvidos”, disse Blazeck. Há também mais 18 ataques em Guarulhos, envolvendo 20 mortes, com inquéritos policiais já instaurados, ainda sendo investigados. “Não há indício direto de participação de policiais militares [nesses casos], mas está sob investigação”, disse Blazeck.

Meira lamentou a participação de policiais militares em grupos de extermínio, mas ressaltou que se trata de ações isoladas de policiais. “Numa corporação em que há 89 mil integrantes, é difícil acreditar que não haja policiais militares que desviam suas condutas. É uma situação desagradável, constrangedora, mas uma coisa é certa: quando temos indícios de autoria de participação de policiais militares, somos implacáveis. Além da responsabilização criminal e do encaminhamento para a Justiça, promovemos principalmente a responsabilização administrativa, que diz respeito à expulsão ou demissão desses policiais militares”, disse. 

Procurada pela Agência Brasil, a Ouvidoria da Polícia Militar informou que vai oficiar a Corregedoria da Polícia solicitando informações sobre os procedimentos e as providências que foram adotados nesse caso. Em todo o ano passado, a Ouvidoria recebeu 7.729 denúncias contra policiais. Do total, 459 se referiam a denúncias de homicídios praticados por policiais e 274 a denúncias de homicídios de autoria desconhecida.

Edição: Fábio Massalli

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