Em torneio internacional, especialista defende estímulo ao ensino profissional no Brasil

03/07/2013 - 16h53

Gilberto Costa*
Enviado especial da Agência Brasil/EBC

Leipzig (Alemanha) – Uma cena comum no primeiro dia da WorldSkills Competition 2013 foi ver adolescentes alemães percorrendo os diversos pavilhões do centro de convenções de Leipzig (Leste da Alemanha, região da Saxônia) onde ocorrem as provas do torneio mundial de educação profissional.

A cena se explica pela importância que tem na Alemanha a formação profissionalizante. Metade dos jovens que conclue o ensino médio vão para escolas técnicas que oferecem formação em cerca de 350 ocupações. “Eles [os alemães] percebem a feira de educação profissional como uma oportunidade para despertar nos jovens interesse profissional. Não temos isso no Brasil”, comenta José Luís Leitão, responsável técnico pela equipe brasileira que participa da competição e com experiência na preparação de equipes para competições de conhecimento.

O especialista admite que no Brasil há preconceito com as profissões que exigem trabalho manual, o que explica menores salários e baixo perfil de qualificação. “A questão cultural vai até na aceitação da palavra. Muitas das profissões que terminam em 'eiro', como pedreiro, marceneiro ou ladrilheiro, não têm uma aceitação muito boa. Se [em vez de dizer pedreiro], eu disser técnico em edificações, muda tudo”, ressaltou.

Conforme divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), entidade brasileira, a educação favorece que a Alemanha tenha um dos mais baixos índices de desemprego na Europa entre jovens (até 25 anos) e seja uma economia exportadora de produtos de alto valor agregado – o comércio com o Brasil, por exemplo, notabiliza-se pela venda de máquinas, veículos e produtos químicos e farmacêuticos e pela compra de produtos básicos como minério, café e especiarias, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Conforme Leitão, “o interesse pela educação profissional não se faz do dia para a noite. Isso é uma cultura”. O Brasil sediará a próxima edição da WorldSkills Competition 2015, em São Paulo. “A missão da organização [do evento] é esta: trazer o interesse da educação profissional para os países”, explicou, ao salientar que apesar do interesse ainda incipiente, o Brasil “não fica a reboque” dos concorrentes.

Para a edição de agosto de 2015, o Brasil propôs a inclusão de prova para uma nova profissão: desenvolvedor de aplicativos para tecnologias móveis (como tablets e celulares). “Nós já dominamos essa tecnologia no Brasil”, avalia Leitão. Segundo ele, a proposta, que está em discussão, foi apoiada de imediato por 12 dos 53 países participantes do evento.

Avaliação feita pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) é que a educação profissional no Brasil ajuda na ascensão social dos alunos. O salário inicial das 21 profissões mais demandadas é próximo de R$ 2 mil (cerca de três vezes o salário mínimo) e os profissionais com dez anos de carreira chegam a ganhar R$ 5,7 mil. Apesar do efeito de mobilidade social, apenas 6,6% dos jovens brasileiros estão matriculados em cursos de educação profissional.

O Mapa do Trabalho Industrial, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), calcula que entre 2012 e 2015 o Brasil irá precisar de 7,2 milhões de pessoas com formação em 177 ocupações diferentes.

* O repórter viajou a convite da CNI
 

Edição: Carolina Pimentel

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