Em livro, Leonardo Boff compara as histórias de Francisco de Assis e "Francisco de Roma"

24/07/2013 - 7h40

Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Três semanas antes do resultado do conclave dos cardeais que indicou o nome do arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, para substituir o papa Bento XVI, o teólogo e professor Leonardo Boff escreveu no Twitter que o futuro papa deveria se chamar Francisco, porque a situação difícil da Igreja era igual àquela por que São Francisco passou. A história foi contada pelo próprio teólogo em entrevista à Agência Brasil.

“Foi uma profecia que eu fiz e ela se realizou. Acho que ele está cumprindo uma missão. Se sente um homem idoso, mas aceitou porque notou que era um chamado divino, fora da velha cristandade europeia fora das relações ambíguas que a Cúria Romana mantém. Ele vem de fora com isenção, com outro olhar sobre a Igreja, um olhar a partir dos pobres que vivem na América Latina”, disse.

O paralelo entre o papa – que, assim como a Igreja da região, fez uma opção preferencial pelos pobres e contra a injustiça social e São Francisco – está retratado no livro Francisco de Assis e Francisco de Roma: Uma Primavera na Igreja?, lançado na terça-feira (16), no Rio. O teólogo especialista na história de São Francisco divulga a publicação hoje (24) em São Paulo.

O escritor, no livro, tenta fazer uma aproximação entre os dois Franciscos, porque eles têm a mesma missão. São Francisco, um jovem da alta burguesia de Assis, escutou um chamado para ajudar a reconstruir a Igreja que estava em ruína. Agora, segundo ele, o papa tem o mesmo chamado.

“Francisco ou Bergoglio vai e reconstitui a minha Igreja que está arruinada pelos escândalos como a pedofilia, o Banco do Vaticano. Ele escolheu um nome que representa um projeto de Igreja. Nenhum papa teria coragem de pegar o nome de Francisco, porque seria contraditório viver dentro de palácios de luxo e de riqueza. E ele aceitou o nome Francisco para dizer: agora começa um estilo novo de igreja mais pobre, mais humilde, mais ligada ao povo, defensora da vida, mais ligada à natureza e à terra”, avaliou.

O papa, segundo Leonardo Boff, ficou sabendo do livro e pediu um exemplar, que será entregue pelo arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta. O teólogo informou que até o momento não tem previsão de um encontro com o papa. “Isso depende do papa. Eu estou disponível, mas não posso solicitar, porque acho importante é a juventude e aqueles que estão envolvidos na melhoria do Brasil e na tarefa de superar a corrupção e de mudar o estilo brasileiro de fazer política [encontrem-se com ele]”, contou.

O pontífice começou o trabalho à frente da Igreja reformulando a figura de um papa, destacou o especialista na história de São Francisco. “Não mora em palácio, mora em uma casa de hóspedes. Um papa que não quer ser chamado de Sua Santidade porque diz que é um irmão entre irmãos e claramente assume a causa dos pobres dizendo que os pobres têm que receber justiça social e não filantropia e assistencialismo. Acho que ele faz isso de maneira brilhante.”

Edição: Talita Cavalcante

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