Centro de ensino em comunidade quilombola no Maranhão passa por dificuldades

13/10/2013 - 13h10

Mariana Tokarnia
Enviada especial da Agência Brasil/EBC

Codó (MA) - No Maranhão estão mais de 25% das cerca de 2 mil escolas em área remanescente de quilombos do país. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no estado existem 574 centros de ensino. Na região de Codó, estão 13 comunidades. Em uma delas, Santo Antônio dos Pretos, a 45 quilômetros de Codó, o Centro Quilombola de Alternância Ana Moreira (Ceqfaam), que atende a jovens da comunidade e dos povoados vizinhos, no ensino médio, precisa urgentemente de recursos.

O ensino médio, antes do Ceqfaam, era cursado em Codó. As famílias se mudavam para a cidade ou enviavam os filhos. O centro, fundado em 2010, foi inaugurado com muita pompa, mas, depois disso, caiu no esquecimento, disse, à reportagem da Agência Brasil e da TV Brasil, Francisco Carlos da Silva, uma das lideranças da comunidade.

No mesmo ano da inauguração, alunos, pais e diretores do Ceqfaam divulgaram uma carta denunciando a situação de abandono do centro de ensino. No documento, eles declaram que o governo mandou “cancelar a licitação do poço artesiano, deixando a escola sem água [alunos tomam banho e lavam roupas no rio]; faltam quase todos os equipamentos; quem faz a alimentação e a limpeza da escola são os professores e alunos, pois as duas cozinheiras, após trabalhar cinco meses sem receber os vencimentos, deixaram o serviço, e o mesmo fez o vigilante; e a energia elétrica é gambiarra”.

Em junho deste ano, a Promotoria de Justiça da Comarca de Codó ingressou com uma ação civil pública, com pedido de liminar contra o estado do Maranhão, solicitando à Justiça que determine a regularização do fornecimento de alimentação aos alunos. Segundo o Ministério Público do Maranhão, por causa desse problema, os estudantes deixaram de ir às aulas. Além disso, a escola recebeu do Ministério da Educação computadores para instalar um laboratório de informática, mas todo material permanece encaixotado, guardado em uma sala. “A rede elétrica não comporta” a instalação dos computadores, disse Solon Nóbrega, um dos professores do centro.

Apesar das dificuldades, o Ceqfaam formou a primeira turma, de 29 alunos. A cerimônia ocorreu no dia 7 de março deste ano. Francimara Delgado Nunes, que concluiu o curso, falou das dificuldades enfrentadas. “Minha turma foi a primeira a chegar na escola. Então para a gente se acostumar com pouca coisa que tinha na escola foi muito difícil. Teve muita dificuldade em tudo, com água, energia, até professores, tinha muita dificuldade”, disse a estudante que ainda não recebeu o diploma.

O professor Solon Nóbrega ressaltou a importância do Ceqfaam para preparar os jovens da comunidade para o trabalho na área agrícola. “A gente não trabalha para formar técnicos que saiam daqui e vão trabalhar em grande fazendas, embora estejam preparados para isso. A intenção é que voltem para a comunidade e, o que eles aprendem aqui, possam aplicar lá”. O professor disse ainda que as técnicas aprendidas podem aperfeiçoar o tipo de cultivo, ainda tradicional e de subsistência. “Aqui, a fome é muito grande, por causa desse inverno curto. A fome este ano foi muito grande, foi muito pouca a colheita”, declarou.

O governo do Maranhão foi procurado pela Agência Brasil e, em nota, diz que a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) mantém permanente diálogo com a comunidade escolar para resolver as questões pertinentes ao funcionamento da escola. “Para resolver o problema da água, está sendo licitada a construção do poço artesiano. Quanto à alimentação escolar para os alunos, o repasse financeiro é efetivado regularmente. O preparo das refeições vem sendo feito por uma moradora voluntária do projeto na Comunidade Quilombola de Santo Antonio dos Pretos”, diz. Além disso, o governo informa que mantém “regularmente” o pagamento dos professores.

 

Edição: Aécio Amado

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