Analistas dizem que eleição parlamentar deste domingo desencadeia sucessão presidencial argentina

26/10/2013 - 18h44

Monica Yanakiew
Correspondente da Agência Brasil/EBC

Buenos Aires – Trinta milhões de eleitores argentinos irão às urnas amanhã (27) para renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. Os resultados da votação definirão o apoio político à presidenta Cristina Kirchner nos dois últimos anos de seu segundo mandato. A composição do novo Parlamento desencadeará o processo de sucessão presidencial nas eleições de 2015.

“Essa eleição não deve provocar grandes mudanças na composição do Congresso, mas marca o princípio do fim do kirchnerismo”, disse o analista político Rosendo Fraga, em entrevista à Agência Brasil.

A Era Kirchner começou em 2003, quando Nestor Kirchner assumiu a Presidência de uma Argentina recém-saída de uma das piores crises econômica, política e social da história recente. Ele ajudou a eleger a mulher, Cristina, em 2007, e morreu em 2010. Um ano depois, a viúva de Nestor foi reeleita com 54% dos votos mas, pela Constituição, ela não tem direito a um terceiro mandato consecutivo.

“Para reformar a Constituição, a presidenta precisaria de dois terços dos votos no Congresso, o que dificilmente terá. Portanto, o que está em jogo agora é saber se ela vai ter forças para fazer sua sucessão ou se o próximo governo ficará nas mãos da oposição”, disse o analista político Roberto Bacman.

Atualmente, o partido do governo, Frente Para a Vitória (FPV) e aliados têm a maioria no Congresso: 135 dos 257 deputados federais e 40 dos 72 senadores. É quase certo que manterão quórum próprio na Câmara. Dos 127 deputados que precisam renovar seus mandatos, 47 são governistas e 80 da oposição. O risco está no Senado. Hoje, Cristina Kirchner conta com o apoio de 40 dos 72 senadores mas, segundo as pesquisas de opinião, pode perder a maioria.

“Mesmo sem maioria nas duas Casas, a governabilidade de Cristina não está em jogo porque o Congresso aprovou a emergência econômica, que é a maior delegação de poderes a um presidente em 30 anos de história. Com isso, ela tem poderes para decidir, por decreto, as questões econômicas até o final de seu mandato”, disse Rosendo Fraga. “O que todos estão de olho, agora, é quem vai despontar dessa eleição como presidenciável".

Dois presidenciáveis surgiram da campanha: Sergio Massa, o prefeito de Tigre - município à 28 quilômetros da cidade de Buenos Aires -, e Daniel Scioli, o governador da província de Buenos Aires, o maior distrito eleitoral do país, com cerca de 40% dos eleitores. Ambos têm uma história no Partido Justicialista (Peronista) e trabalharam com Nestor e Cristina Kirchner.

Massa, no entanto, passou para a oposição: candidatou-se a deputado federal da província de Buenos Aires pela Frente Renovadora e, nas primárias, em agosto passado, obteve 35,05% dos votos, mais que Martin Insaurralde, candidato do governo e apoiado por Scioli que recebeu 29,65% dos votos. “No encerramento de campanha, Massa fez um discurso de candidato presidencial o que prova que o que está em jogo é a sucessão de Cristina Kirchner”, disse Bacman.

Cristina Kirchner não pode participar da reta final da campanha, porque ainda está se recuperando de uma cirurgia para retirar um coágulo do cérebro. Tampouco deverá votar: os médicos proibiram que ela fizesse qualquer viagem em helicóptero ou avião e o distrito eleitoral dela é em Santa Cruz, no extremo sul da Argentina.

Edição: Marcos Chagas

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