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Política

“Brasil, Ame-o ou Deixe-o”: regime divide sociedade com exílios e cassações

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 31/03/2014 - 08:23
Rio de Janeiro

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O regime instaurado pelo golpe de 1964 desestruturou a produção no país em vários setores, com o exílio de cientistas, acadêmicos, artistas e políticos, sem contar as cassações, aposentadorias compulsórias, prisões, torturas e mortes. De acordo com a Comissão Nacional da Verdade, cerca de 50 mil pessoas tiveram a cidadania diretamente violada durante o período, marcado pela intolerância do lema criado pelo governo militar: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Segundo o Relatório Projeto Brasil Nunca Mais, no último ano do governo de Ernesto Geisel, penúltimo presidente do ciclo militar, “já se computavam 10 mil exilados políticos, 4.682 cassados por diversos meios, milhares de cidadãos que passaram pelos cárceres políticos, centenas de mortos e desaparecidos, 245 estudantes expulsos da universidade por força do Decreto 477”. Considerado o AI-5 das universidades, o decreto viabilizou a punição de alunos, professores e servidores que incomodavam o regime.

Logo nos primeiros dias do golpe, o Ato Institucional 1 cassou os direitos políticos de 102 brasileiros, iniciando o que viria ser uma praxe do regime. O historiador e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Francisco Carlos Teixeira da Silva, destaca que, àquela época, havia uma “paranoia de se ver comunistas em todos os lugares”.

O que havia, segundo ele, eram pessoas que tinham uma concepção humanista e transformadora da sociedade ou, simplesmente, pessoas que incomodavam os outros. “Muita querela de trabalho, muita coisa que não tinha a ver com política foi envolvida nisso, como uma forma de acerto de contas”, destaca. Uma geração que lutava por mais democracia, direitos sociais e reformas foi excluída da vida nacional.

 

 

 

 

 

 

Alguns centros de pesquisa sofreram particular perseguição, como a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manguinhos, palco do chamado “Massacre de Manguinhos”; e o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que teve inúmeros professores cassados, entre os quais, Darcy Ribeiro, Victor Nunes Leal, Eulália Lobo e Maria Yedda Linhares.

O Massacre de Manguinhos é considerado um dos episódios mais tristes para a ciência brasileira. No dia 1º de abril de 1970, oito pesquisadores da Fiocruz foram cassados. Dias depois, mais dois cientistas foram aposentados compulsoriamente pela ditadura militar.

 

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O pesquisador citou ainda a Universidade de São Paulo (USP), que perdeu parte fundamental do seu Departamento de Sociologia. De acordo com ele, as perseguições a professores e alunos de universidades “representaram um atraso de duas décadas à formação do conhecimento, do espírito crítico dentro do país.”

Na capital federal, a Universidade de Brasília (UnB) foi invadida por tropas militares em vários episódios, nas décadas de 1960 e 1970. A primeira invasão ocorreu em 9 de abril, dias após o golpe, quando 14 ônibus despejaram centenas de soldados para ocupar o campus. Na ocasião, nove professores foram demitidos, além do reitor Anísio Teixeira e do vice-reitor Almir de Castro.

A invasão mais conhecida ocorreu no dia 29 de agosto de 1968, quando um estudante foi baleado, 60 pessoas foram presas e 500 chegaram a ser detidas provisoriamente, juntamente com parlamentares, em uma quadra de basquete. O episódio é retratado no filme Barra 68, do cineasta Vladimir Carvalho.

Durante a invasão, o estudante Honestino Guimarães, aluno de geologia e presidente da Federação dos Estudantes Universitários de Brasília (Feub), é preso. Honestino ficou conhecido por sua luta contra o regime militar. Desaparecido em 1973, Honestino teve a morte oficialmente reconhecida em 1996.

Para o professor Francisco Carlos Teixeira da Silva, o caso de perseguição a Anísio Teixeira, que ele considera o maior humanista brasileiro, é um dos mais graves registrados no período.  Ele lembra que o reitor sofreu os efeitos de duas ditaduras: a do Estado Novo, de Getúlio Vargas, “quando foi preso e expulso”; e a militar, durante a qual foi assassinado.

“Ele foi jogado em um poço de elevador. E é o homem que permitiu a formação de Paulo Freire e Darcy Ribeiro. É o homem que pensou a escola no Brasil como um lugar de emancipação das classes populares. E foi assassinado pela ditadura”. Para o historiador da UFRJ e do Iuperj, destruir uma inteligência como Anísio Teixeira não tem preço. “Naquela época, ele já dizia que, sem escola, o país não avança.”

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