Funcionária da Odebrecht diz que acarajé é só um quitute baiano, e não propina

Publicado em 26/02/2016 - 21:31 Por André Richter - Repórter da Agência Brasil - Brasília

A funcionária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares, presa na Operação Acarajé, da Polícia Federal, afirmou, em depoimento aos investigadores, que a palavra "acarajé", na  correspondência de funcionários da empresa, não significa propina, mas sim uma iguaria baiana. 

Segundo a PF, e-mails apreendidos na sede da empreiteira mostram que dois executivos, Hilberto Mascarenhas e Roberto Ramos, trocaram mensagens, em 2013, nas quais acionavam a funcionária para entregar “acarajés” nos endereços indicados por eles.

No depoimento, Maria Lúcia, presa em Salvador, declarou que Mascarenhas lhe pedia para providenciar o quitute e não o pagamento de propina. A PF batizou a 23ª fase da Lava Jato com o nome do bolinho,  por entender que o termo, no caso,  se refere a valores em espécie que eram entregues a Ramos.

“Afirma [Maria Lúcia] que se recorda que por vezes Hilberto lhe pedia para providenciar a entrega de porções de acarajé no Rio de Janeiro, em um escritório. As baianas em Salvador vendem pequenas porções para aperitivos, em caixa, e então cabia à declarante providenciar essas entregas a pedido de Hilberto, no local onde ele indicasse”, diz trecho do depoimento.Para os delegados, a versão de Maria Lúcia é “pouco verossímil” e, conforme as investigações, a funcionária era responsável pelo gerenciamento da “contabilidade paralela” da Odebrecht.

“Os acarajés – em porções de 50 – seriam supostamente remetidos de Salvador para o Rio de Janeiro e ‘chegavam quentinhos’, conforme relatado nos e-mails analisados. Registra-se ainda nos e-mails uma menção ao envio de 50 acarajés dos 500 - (saldo que Roberto Ramos tinha com Hilberto) - circunstâncias que desmontam, de pronto, a plausibilidade da versão sustentada por Maria Lúcia”, diz a PF. No depoimento, Maria Lúcia também declarou que era meramente encarregada de fazer relatórios financeiros. A Polícia Federal apreendeu uma planilha na casa da funcionária, que, segundo as investigações, seria responsável pelos pagamentos ao publicitário João Santana.

No documento, intitulado Feira-Evento 14 foram identificados sete pagamentos, que totalizam R$ 4 milhões, e fazem referência às palavras “Cid, São e totalmente atendida”. Segundo a PF, os termos Cid e São seriam referências à cidade de São Paulo; a palavra  Feira seria o apelido de Santana.

Em entrevista coletiva hoje (26), os advogados de Santana e de sua mulher, Mônica Moura, refirmaram que eles não receberam dinheiro da Odebrecht no Brasil. A defesa afirma que eles obtiveram recursos da empreiteira no exterior, porque era a única forma de receber pelos serviços prestados nas campanhas eleitorais na Venezuela e em Angola.

Em nota à Agência Brasil, a Odebrecht afirmou que “não tem conhecimento da planilha apresentada pela autoridade policial e não tem como comentar a sua veracidade ou significado”.

 

Edição: Jorge Wamburg

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