Surto de malária no Espírito Santo; saiba mais sobre a doença

Publicado em 10/08/2018 - 16:17 Por Paula Laboissière - Repórter da Agência Brasil - Brasília

A malária é uma doença infecciosa febril aguda, causada por protozoários transmitidos pela fêmea infectada do mosquito Anopheles. No Brasil, a maioria dos casos concentra-se na região amazônica, em estados como Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Desde a semana passada, entretanto, o Espírito Santo passou a ser motivo de preocupação – o estado já registra mais de 100 casos da doença, incluindo um óbito.

O Ministério da Saúde alerta que, nas regiões fora da Amazônia, apesar das poucas notificações, a malária não pode ser negligenciada, já que se observa uma letalidade ainda mais elevada. De fato, todos os 112 casos de malária confirmados em território capixaba são da forma mais grave da doença, como explicou o médico e referência técnica da Vigilância Epidemiológica do Espírito Santo, Adeniton Cruzeiro.

Até o momento, o município de Vila Pavão concentra 92 casos e Barra de São Francisco, 20 casos. 

Em entrevista à Agência Brasil, o especialista lembrou que, em locais onde a doença não é endêmica, os sintomas podem ser facilmente confundidos com os de arboviroses como dengue, zika e chikungunya e que é importante que profissionais de saúde e a população estejam atentos aos primeiros sinais de infecção por malária – incluindo febre, mal-estar, náusea e calafrios. A cura é possível se o paciente for tratado em tempo oportuno e de forma adequada, mas o quadro pode evoluir para complicações e até mesmo óbito. 

Leia, a seguir, a entrevista do médico Adeniton Cruzeiro

Agência Brasil: Qual o cenário de malária neste momento no Espírito Santo?

Adenilton Cruzeiro: Temos um surto que se iniciou na região noroeste do estado na semana passada. Começamos com cinco a sete casos. Fomos informados e logo deslocamos uma equipe. Eu mesmo fui junto, para fazer treinamento, capacitação com profissionais do município de Vila Pavão, incluindo médicos, enfermeiros e agentes. Uma equipe treinou borrifação [técnica para conter a circulação do mosquito]. Outra fez coleta de gota espessa [exame laboratorial que detecta a infecção pelo protozoário]. Colegas médicos da capital foram para hospitais da região fazer levantamento e conversar com os médicos de lá. Armamos um esquema de bloqueio, visto que o surto ocorre na região rural de Vila Pavão. Os resultados foram para um tipo de malária mais agressiva. Não temos esse tipo de malária aqui. Há, ao todo, cinco tipos dessa espécie. Aqui no Brasil, o que predomina é uma espécie mais branda, difícil de causar qualquer complicação. Em um ano, no Espírito Santo, temos 45 ou 50 casos do tipo mais leve. Casos mais graves geralmente vêm de fora do estado, principalmente do exterior. São pessoas que desembarcam de navios, principalmente da África. Desses, temos em torno de dois ou três pacientes por ano. Quando surgiu esse surto, uma semana depois, já estamos com 112 casos confirmados. Pensamos, inicialmente, que teríamos mais óbitos. Mas uma equipe para fazer diagnóstico o mais precocemente possível, além da busca ativa de casos sintomáticos fez com que essa malária, mesmo mais grave, não apresentasse nenhum caso grave e nenhum novo óbito. Além disso, optamos por internar, mesmo não sendo grave, pacientes mais vulneráveis, como gestantes, idosos e pessoas imunossuprimidas. 

Agência Brasil: Além dos 112 casos confirmados, há casos em investigação no estado?

Adenilton Cruzeiro: O diagnóstico de malária é muito rápido. Pessoas com febre, mal-estar, fraqueza, náusea e calafrios são submetidas, na residência mesmo, ao teste rápido. A leitura é feita na hora. Em 15 minutos, [caso o resultado seja positivo], já estamos autorizado a iniciar o tratamento. Temos também a gota espessa, um exame para detectar o quantitativo da infecção. Nesse caso, é feita a coleta de uma gota de sangue do dedo do paciente numa lâmina, que é curada e analisada em microscópio. O teste rápido é indicado para pacientes que estão febris, mas, depois, a gota espessa também deve ser processada, porque mostra a quantidade do parasita no sangue e orienta sobre a forma de malária. 

Agência Brasil: Qual a diferença da forma mais grave para a forma mais branda de malária?

Adenilton Cruzeiro: Na malária mais grave, a sintomatologia é mais acentuada. O parasita agride mais o organismo, levando a complicações. Principalmente em grupos de risco, a chance de evoluir para gravidade e para o óbito é maior. 

Agência Brasil: Qual a orientação para a população?

Adenilton Cruzeiro: Estamos orientando a população, e também profissionais de saúde, já que o estado não é considerado endêmico. Os sintomas se confundem muito com os de outras doenças, principalmente arboviroses como dengue e chikungunya, que também apresentam febre, dor de cabeça, mal-estar, náuseas e vômitos. A orientação é que os profissionais fiquem atentos ao atender um paciente com febre oriundo dessa região. Para pacientes, a ordem é, ao primeiro sinal de febre, procurar uma unidade de saúde ou o posto de atendimento mais próximo. Além disso, devem ser adotadas medidas de proteção individual, como o uso de camisa de manga comprida, tela mosquiteiro e repelente. O horário das 17h às 20h, ou seja, o anoitecer, é quando o mosquito mais pica. Durante o dia, ele fica dento da mata, mas, nesse horário, sai para se alimentar. 

Não há, entretanto, motivo de alarde ou de pânico. A situação está totalmente circunscrita àquela região de zona rural. O vetor é silvestre, não está no meio urbano. E também não se trata de uma doença causada por vírus. A gente espera que, nos próximos dias, reduza-se o número de casos positivo no estado.

Edição: Nádia Franco

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