Maior problema da AL não é mais a fome, mas a obesidade, diz FAO

Publicado em 29/05/2019 - 21:06 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro 

O representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Rafael Zavalla, disse hoje (29), no Rio de Janeiro, que o maior problema da América Latina atualmente não é mais a fome, mas a obesidade. Ele participou da abertura do 1º Fórum Regional das Cidades Latino-Americanas Signatárias do Pacto de Milão sobre Política de Alimentação Urbana. O encontro objetiva debater políticas alimentares urbanas sustentáveis e inclusivas.

Para Zavalla, o desafio da obesidade é muito complexo devido a três fatores. O primeiro é a grande quantidade de alimentos ultra-processados, que favorecem a obesidade; o segundo é o sedentarismo e o terceiro fator, mais grave, é um problema midiático: a promoção do consumo de alimentos "não bons". Para ele, é preciso que haja o compromisso da sociedade civil, empresas e governos para focar nessas questões e tentar resolvê-las.

Em entrevista à Agência Brasil e à Rádio Nacional, Zavalla disse que o problema da fome persiste em alguns países, como a Guatemala, porém, regionalmente, o desafio é a obesidade. 

Para combater a obesidade, o representante da FAO destacou a estratégia da alimentação escolar feita no Brasil . “O Brasil é número um. Um grande exemplo a nível global para ir cultivando nas crianças como comer melhor, fomentando não só alimentação saudável, mas cultura alimentar, gerando também ambientes saudáveis para a alimentação e a educação".

Concentração

O representante da FAO, disse que a obesidade está concentrada nas cidades. Dentre os dez países líderes da obesidade no mundo, quatro estão nas Américas, sendo dois na América Latina. A liderança é exercida pelos Estados Unidos, com 38,2%; seguido do México, com 32,4%; Canadá, com 25,8%; e Brasil (20,8%). 

México, Estados Unidos e Brasil são os países que concentram maior população urbana. Na América Latina, as maiores cidades estão no México e Brasil. "É claro o desafio da obesidade nas cidades", disse Zavalla.

Merenda escolar
Para Rafael Zavalla, da FAO, alimentação escolar feita no Brasil é exemplo mundial  - Arquivo/Agência Brasil

Problema

O relatório Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe, divulgado pela FAO e Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no ano passado, mostrava que a obesidade afetava um em cada quatro habitantes na região. De 2012 para 2016, a obesidade evoluiu 2,4%, afetando 24,1% da população regional. 

Entre os adultos, essa condição de saúde englobava 104,7 milhões de pessoas. Em todo o mundo, há em torno de 672 milhões de pessoas obesas, o que corresponde a mais de uma pessoa para cada oito indivíduos, informou a FAO.

Em 2017, o relatório da FAO e Opas já identificava tendência de crescimento da obesidade. Cerca de 58% da população latino-americana e caribenha estavam com sobrepeso, o que equivalia, à época, a 360 milhões de pessoas. Já a obesidade afetava 140 milhões de pessoas, 23% da população regional, com maior prevalência no Caribe: Bahamas (36,2%) Barbados (31,3%), Trinidad e Tobago (31,1%) e Antígua e Barbuda (30,9%).

As mulheres superam os homens no aumento da obesidade. Mais de 20 países da região latino-americana e caribenha revelam que a taxa de obesidade feminina era, em 2017, 10% maior que a dos representantes do sexo masculino.

Globalização

Em reunião dos ministros da Agricultura do G20, em Niigata, no Japão, neste mês, o chefe da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, alertou que estava ocorrendo uma “globalização da obesidade”. Segundo a FAO, mais de 2 bilhões de pessoas no mundo estão atualmente acima do peso e mais de 670 milhões são consideradas obesas. 

Graziano defendeu que a obesidade pode ser combatida por meio de parcerias público-privadas que contribuam para que os sistemas alimentares forneçam, "de maneira sustentável, alimentos saudáveis ​​e nutritivos para todos”.

Embora oito dos 20 países com maiores taxas de obesidade estejam na África, é na Ásia que são encontrados em torno de 19 milhões de crianças abaixo dos 5 anos de idade com excesso de peso. De acordo com a FAO, em todo o mundo são 38 milhões de crianças de até 5 anos com excesso de peso.

O tema da obesidade é um dos que será abordado durante o fórum regional do Pacto de Milão, que se estenderá até o próximo dia 31, no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR).

Edição: Fábio Massalli

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