Pela primeira vez na América Latina exposição trata de migração e memórias
A cidade de São Paulo recebe a primeira exposição da artista japonesa Chiharu Shiota na América Latina, com o título Em Busca do Destino. São três grandes instalações criadas com emaranhados de fios de lã que envolvem objetos e carregam memórias, trajetórias e traços da vida cotidiana. Para a concepção das obras, a artista contou com a participação do público brasileiro, que enviou cartas de agradecimento e sapatos usados, o que reflete a mensagem da mostra.
De acordo com a curadora Tereza de Arruda, a ideia de Chiharu é desenvolver uma relação com o público paulistano e fazer essas obras que, para ela, são sempre uma relação com a memória. Por isso que ela utiliza coisas usadas, como sapatos e malas, e também cartas que escreveram para ela, explicou.
A artista japonesa, que mora há 19 anos na Alemanha, reúne elementos que representam não só sua própria trajetória, mas também as de muitas outras pessoas desconhecidas. “Ela fala de uma memória coletiva, de vários fenômenos sociais, por exemplo – de migração, de desprendimento de certos locais, de transição –, e isso não acontece somente com ela”, disse Tereza. Por isso, afirmou a curadora, é tão importante a participação da comunidade na composição das obras.
Na primeira parte, a instalação Além dos Continentes tem sapatos suspensos por fios vermelhos, que carregam as marcas do tempo e representam as trajetórias de cada pessoa que os usou, como se fossem testemunhas das experiências de vida.
Na sequência, em Acumulação, 200 malas estão dispostas sobre as escadas rolantes e se movimentam, acionadas por um sensor – durante as passagems dos visitantes – que dá à obra um fluxo contínuo junto ao movimento de subida e descida das pessoas nas escadas. Também relacionada à trajetória, a artista sugere um universo transitório, um lugar de passagem.
A última instalação, Cartas de Agradecimentos, que já foi exposta em outros países, ganhou ressignificação aqui no Brasil, porque todas as 3,7 mil cartas da mostra foram escritas à mão por brasileiros. Shiota, em um sentimento de gratidão por sua vida, tenta estimular as pessoas a escreverem agradecimentos que, muitas vezes, são difíceis de serem verbalizados.
Um passeio pela capital paulista, em novembro do ano passado, aproximou a artista do público brasileiro, contou Tereza. Na Alemanha, pelos traços característicos de uma japonesa, muitos abordam Shiota como estrangeira, como uma turista, geralmente falando em inglês, porque os alemães não imaginam que ela entenda e se comunique em alemão.
Já em São Paulo, qualquer abordagem a Shiota acontecia em português. “Ela ficou muito impressionada, porque, de cara, em São Paulo, as pessoas a abordavam em português, como se ela fosse uma brasileira, ninguém pensaria que ela era uma japonesa e não falava português”, ressaltou a curadora.
Tereza destacou que sempre teve o desejo de trazer o trabalho da artista japonesa ao Brasil, por ser um país constituído de migrantes. “É uma sociedade completamente mista, e cidades como São Paulo não têm somente a migração internacional, mas também a migração de vários estados brasileiros”, acrescentou.
A exposição está no Sesc Pinheiros, é gratuita e vai até 10 de janeiro do ano que vem.