logo Agência Brasil
Geral

Protesto fecha avenida no Rio contra morte de moradora do Morro do Congonha

Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 17/03/2014 - 21:21
Rio de Janeiro

 

Rio de Janeiro - Protesto contra morte de Cláudia Ferreira da Silva. Baleada em operação da PM no Morro da Congonha,  ela teve o corpo arrastado durante socorro em viatura policial (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Moradores do Morro do Congonha atearam fogo a pneus e plásticos em protesto contra morte de Cláudia Ferreira da SilvaFernando Frazão/Agência Brasil

Moradores do Morro da Congonha e do Morro do Cajueiro, em Madureira, zona norte do Rio, fecharam hoje (17), em diversos momentos ao longo do dia, a Avenida Edgard Romero, uma das principais da região, em protesto contra a morte de Cláudia da Silva Ferreira. Ela foi baleada no domingo (16), durante operação da Polícia Militar (PM) no Morro da Congonha. Os policiais colocaram a vítima no porta-malas de uma viatura, que acabou se abrindo, jogando o corpo para fora.

Com o fechamento da avenida, o trânsito ficou parado e muitos passageiros preferiram descer dos ônibus e seguir a pé. “Esse tipo de reação do pessoal atrapalha a gente, mas é necessário acontecer. Eu sou morador daqui e sinceramente apoio, mesmo sendo prejudicado, chegando agora do serviço, tendo que andar a pé. Mas alguma coisa tem que ser feita”, disse o morador Álvaro Luiz da Silva.

Os moradores da Congonha e também do vizinho Morro do Cajueiro fizeram fogueiras com pneus, plásticos e madeiras no meio da pista. “O motivo do protesto é a moça da Congonha que eles mataram e arrastaram. Deixaram os quatro filhos e quatro sobrinhos dela sem ter quem criar. A polícia entra na favela e não respeita ninguém. Isso é um abuso. Aqui tem gente trabalhadora. Meu marido mesmo foi uma vítima da PM, em 1999. Minha filha tinha 21 dias e hoje ela está com 14 anos. O que eu ganhei do governo até hoje? Nem R$ 0,50”, contou a vendedora Adriana Inácio.

Em uma rua transversal que dá acesso à favela, mais fogueiras foram acesas, impedindo o tráfego de veículos. “A revolta do morador é muito grande. Interrompemos a rua como uma forma de protesto. É uma maneira de chamarmos a atenção”, disse a dona de casa Maria Adélia. “Eles fizeram o que fazem sempre. Eles agem de forma truculenta. Não sabem abordar as pessoas de forma correta. Acham que o morador da favela não tem direitos”, reclamou Cleisi Silva Batista.

Os policiais do 9º Batalhão da Polícia Militar (Rocha Miranda) não interviram no protesto, limitando-se a observar os moradores. O trânsito na Avenida Edgar Romero foi liberado às 18h30.

O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, disse, em nota, que “repudia a conduta dos policiais”. De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública, um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado e a Polícia Civil também investiga o caso.

O advogado Marcos Espínola, que defende um dos PMs envolvidos, afirmou em nota que o episódio ocorrido com Cláudia foi um “acidente” e que sua morte não foi ocasionada pelo incidente na viatura. Para ele, “em nenhum momento os policiais contribuíram para o óbito da vítima”. Segundo o advogado, “Claudia foi colocada na parte de trás do carro porque a viatura estava com armamentos no banco traseiro e a viela estreita impedia a abertura das portas laterais”.