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Direitos Humanos

Mulheres de comunidade carioca fazem curso com dinheiro de multa trabalhista

Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 01/02/2015 - 16:51
Rio de Janeiro

O projeto Samba, Moda e Sustentabilidade, financiado com recursos de multa trabalhista, fez a alegria de 20 moradoras da comunidade do Salgueiro, na Tijuca, que frequentaram curso de costureira, de agosto a dezembro do ano passado, no barracão da escola, na Cidade do Samba, zona portuária do Rio. Para tanto, receberam bolsa mensal de R$ 400 e auxílio-transporte.

O curso foi pago com multa de R$ 150 mil que o Ministério Público do Trabalho (MPT) requereu do Sindicato dos Empregados do Comércio do Rio de Janeiro, em razão do não cumprimento de acordo trabalhista de 2009. Da multa, R$ 115 mil foram destinados ao curso, de acordo com o procurador do Trabalho, João Carlos Teixeira.

Ele informou que foi o primeiro acordo que o MPT fez com o Instituto Pereira Passos (IPP), no Rio, para a utilização dos recursos de multas em ações sociais. Entre outras funções, o IPP, gerencia o programa Rio+Social na integração de políticas sociais, urbanas e de promoção da cidadania em áreas com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

O projeto teve a participação ainda da Escola Samba Acadêmicos do Salgueiro e da organização não governamental franco-brasileira Moda Fusion. “A multa, em geral, a gente coloca para reverter ao FAT [Fundo de Amparo ao Trabalhador] ou a uma entidade pública ou privada que preste relevantes serviços sociais. Havendo acordo judicial, os recursos são utilizados para financiar projeto social”, esclareceu.

Para a advogada Patrícia Nascimento, responsável no Salgueiro pela área de projetos financiados por meio de incentivo fiscal, além de corte e costura, as mulheres da comunidade aprenderam a fazer artesanato, estampas, enfeites e acessórios, e isso serviu para aumentar a autoestima delas. “Elas hoje sabem que podem mais. Podem sonhar, podem se esforçar e merecem respeito e cidadania. Acho que de todos os ganhos que tivemos com esse projeto – e são muitos! –, esse foi o maior. Hoje, elas são mulheres fortalecidas”, exaltou, e isso fica evidente nos depoimentos delas.

Lorena Moura, de 20 anos, e Neide Neves de Azevedo, de 61 anos, moram na comunidade do Salgueiro, na zona norte do Rio e, apesar da diferença de idade, foram colegas de sala de aula. As duas participaram, com mais 18 vizinhas, de um curso de corte e costura, a partir de material reciclado dos desfiles de carnaval. A formatura foi esta semana, na quadra do Salgueiro, na Tijuca, com um desfile de moda para apresentar os figurinos preparados pelas novas costureiras do Salgueiro.

O curso foi no barracão do Salgueiro, onde a escola prepara o carnaval que levará para a avenida nos desfiles de 2015. Para Lorena Moura, fazer o curso representou a possibilidade de inciar a carreira dos sonhos. “Aprendi a costurar e a montar roupa. Vai servir muito, porque eu quero seguir nessa carreira. Quero ser estilista e depois trabalhar com produção de moda. Sigo várias redes sociais para saber de tudo o que está acontecendo”.

Lorena contou que até começar o curso não sabia costurar, embora já arriscasse nos desenhos. Nas aulas ela conseguiu aprimorar esta característica. “Gostei, e agora estou desenhando para caramba. Aprendi muita coisa lá, e estou pretendendo fazer um curso de moda no Vidigal [comunidade da zona sul do Rio], disse, já pensando no futuro.

Neide Neves de Azevedo também não sabia costurar, mas foi para as aulas com a intenção de aprender. “Apareceu uma oportunidade como essa e não vou aproveitar? Em abril faço 62 anos. Lá tinha umas jovens, e eu falava: vamos gente, vamos aprender!” - contou sorrindo.

Mesmo tendo que pegar ônibus e caminhar até chegar ao barracão, a dona de casa não reclamava. “Aprendi muitas outras coisas. Desenhar, fazer guirlanda, fuxico [peças artesanais feitas com retalhos, que podem ser usadas para a composição de colchas, tapetes, e objetos de decoração, entre outros], uma pena que acabou. A caminhada fez perder peso, beber bastante água, e todo mundo estava sempre rindo e brincando. Se pudesse, voltava”, diz, saudosa.

O curso significou também poder fazer mais uma atividade para se manter ocupada. “A idade vai chegando e [a gente] não pode parar. Quando estou de bobeir,a fico fazendo uns fuxicos. Isso é uma terapia. A gente tem que envelhecer com a cabeça boa”, sentenciou.