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Direitos Humanos

Moradores de rua vão fotografar São Paulo e fotos irão compor calendário

Flávia Albuquerque – Repórter da Agência Brasil
Publicada em 03/11/2015 - 15:37
São Paulo

Mais de 50 pessoas em situação de rua receberam hoje (3) câmeras fotográficas descartáveis para registrar a cidade de São Paulo de acordo com o seu olhar. Os escolhidos ficarão dois dias com a máquina para produzir 24 fotos. Depois, uma comissão julgadora escolherá as 20 melhores fotos, que participarão de uma exposição e, dessas, 13 serão escolhidas para compor um calendário que será apresentado no 3º Festival de Direitos Humanos – Cidadania nas Ruas, em dezembro.

A exposição fotográfica será aberta ao público, que poderá votar para ajudar a escolher as imagens que irão para o calendário. Os autores das fotografias escolhidas receberão prêmio de R$ 100 e o calendário será vendido pelas organizações não governamentais (ONGs) parceiras do projeto. O dinheiro da venda será destinado a projetos de arte e cultura para a população em situação de rua da cidade.

Com o nome de Minha São Paulo – O Olhar da Cidade pela População em Situação de Rua, o projeto é organizado pela rede With One Voice, em parceria com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania e as ONGs inglesas People’s Palace Projects e Streetwise Opera, o British Council e Calouste Gulbenkian Foundation.

O projeto surgiu no Reino Unido, por meio da organização Café Art. Segundo Jan Onnszko, que representa um dos parceiros da iniciativa no Brasil, o objetivo é ajudar as pessoas a se apropriar das cidades onde vivem, já que, muitas vezes, elas sentem excluídas. Com as fotos, elas vão mostrar sua própria visão da cidade.

“Elas se dão conta de que podem tirar fotos e têm talento, porque vai virar um produto vendido. Isso ajuda a aumentar a autoestima e confiança de que são capazes. Não temos ideia do que a população de rua de São Paulo vai fotografar, porque o olhar varia de uma cidade para outra. Não temos ideia do que virá, mas nossa expectativa é boa, pelo que ouvimos hoje. As pessoas estão animadas e com várias ideias.”

Carlos Paixão da Silva tem 24 anos e há três mora na rua. Ele se interessou pelo projeto e decidiu mostrar em suas fotos o centro da cidade, porque acha a paisagem bonita. “Não vou perder essa chance porque não é sempre que isso acontece. Eu sempre me interessei em tirar fotos. Quem sabe posso me transformar em fotógrafo profissional?”

Daniele Marlon, de 19 anos, pretende mostrar o que viu nas ruas durante os cinco anos em que está nessa situação. “Vou procurar paisagens bonitas e vou andar mais por aí para encontrar alguma coisa que eu ache que é possível entrar no calendário.”

A assessora para Assuntos Internacionais da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Kelly Komatsu Agopyan, disse que a secretaria pretende trazer a São Paulo no ano que vem outras ONGs que trabalhem com cultura popular. “Acima de fazer um calendário, a ideia é tentar empoderar essa população e estimular que a arte e a cultura sejam de fato uma ferramenta que mude a vida dos moradores de rua. Em Londres, [a iniciativa] teve bons frutos e aqui em São Paulo estimular essa vertente da cultura é fundamental para valorizá-los e dar oportunidade par eles mudarem de vida.”