Família de menina morta em escola precisa de assistência imediata, diz advogado

Publicado em 03/04/2017 - 18:57 Por Flávia Villela - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

 Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Rosilene Alves Ferreira, mãe de Maria Eduarda, mostra perfurações de bala no casaco que ajovem usava quando foi  assassinada  na  quadra  da  escola,  ao  participar  da  aula  de  educação  física   Tânia  Rêgo/Agência  Brasil 

A família da garota Maria Eduarda Alves Ferreira, de 13 anos, assassinada na última quinta-feira (30) na escola onde estudava no Rio de Janeiro, teve um encontro nesta tarde com membros da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Segundo o advogado dos pais da estudante, João Tancredo, a família não está satisfeita com a assistência que vem sendo oferecida pelas autoridades. “Eles [a família] estão destroçados. Precisam de tratamento psicológico imediato, e o governo tem que arcar com isso”, disse. O advogado disse que o governo colocou à disposição da família um psicólogo no centro do Rio, sem dar condições de transporte. “Na prática, não funciona. O psicólogo precisa estar próximo de casa”, argumentou.

A menina estava na aula de educação física quando foi alvejada por três tiros - dois na cabeça e um no tronco - durante um confronto entre policiais e traficantesO advogado ressaltou que não importa de onde veio o tiro, no que diz respeito à ação indenizatória, uma vez que Maria Eduarda estava dentro da escola.

Só quer justiça

O tio da menina, Anderson Rodrigues, disse que há despreparo da polícia nas ações em comunidades. “Temos sempre que observar tudo, porque infelizmente acontece [tiro] do nada. Acho que deve haver um preparo melhor em todas as áreas do estado.”

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputado Marcelo Freixo (Psol), informou que o colegiado ofereceu apoio psicológico à família e vai garantir o direito dos parentes de acompanhar as investigações que estão sendo feitas pela Polícia Civil. “Há outras perguntas, além de que arma saiu a bala, que o Poder Público precisa responder. Temos muitos policiais morrendo e matando e mais uma família destroçada. Que ação policial é essa em uma porta de escola, em um momento que tem vários jovens dentro da escola?” questionou Freixo.

Em frente à mesma escola, policiais militares atiraram em dois homens que estavam deitados no chão. A cena foi gravada em vídeo divulgado nas redes sociais e na imprensa mostrando o momento em que os homens foram mortos. A Divisão de Homicídios e a Corregedoria da Polícia Militar investigam o caso.

Blindar muros

O prefeito Marcelo Crivella informou nesta segunda-feira (3) que importou dos Estados Unidos uma argamassa especial para blindar os muros das escolas municipais em áreas consideradas de risco. Ele criticou operações da Polícia Militar perto de escolas no horário escolar. “Isso nos preocupa muito. Temos 20 escolas que estão paradas. Ninguém pode governar uma cidade nessas condições, sem segurança. É importante discutir isso com a sociedade, a polícia,a Força Nacional de Segurança, pois não podemos ter mais crianças baleadas dentro de escola.”

Crivella tem reunião marcada nesta quarta-feira (5) com representantes da área de segurança estaduais e federais. “Convidamos a todos. A execução da segurança não é do prefeito, mas do governo do estado. Porém, quero conversar sobre um projeto, pois o Rio de Janeiro não pode continuar do jeito que está.”

Para o presidente da organização não governamental (ONG) Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, a argamassa não vai resolver o problema. “Nenhuma blindagem teria preservado a vida de Maria Eduarda, que estava no pátio. As crianças me relataram uma situação inimaginável. Conversei com o prefeito no enterro e disse que a melhor blindagem é a entrada de políticas públicas nas comunidades pobres. Precisamos de um esforço olímpico para construirmos escolas, hospital e áreas de lazer para esses jovens.”

Antônio Carlos participou da reunião com os parentes de Maria Eduarda na Alerj. Mais cedo ele passou por Manguinhos, na zona norte, onde um idoso foi morto enquanto lia jornal na porta de casa.

Edição: Augusto Queiroz

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