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Direitos Humanos

Deputadas denunciam racismo em revista no aeroporto de Guarulhos

Parlamentares negras foram as únicas a passar pelo procedimento
Luciano Nascimento* - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 12/04/2025 - 16:23
São Luís
Passageiros embarcam no terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos.
© Rovena Rosa/Agência Brasil

Três deputadas estaduais, duas de Minas Gerais e uma de São Paulo, registraram um boletim de ocorrência por terem sofrido prática de racismo no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos nesta sexta-feira (11) 

Segundo as deputadas Ediane Maria (PSOL-SP), Andreia de Jesus (PT-MG) e Leninha (PT-MG), três mulheres negras, elas foram vítimas de revista discriminatória no desembarque do grupo que representou o Brasil no Painel Internacional de Mulheres Afropolíticas, no Senado do México.

Andreia de Jesus relatou em uma rede social que entre centenas de passageiros no desembarque, ela e as outras duas deputadas foram as únicas selecionadas para uma revista pelos agentes de segurança da Polícia Federal (PF) no Aeroporto de Guarulhos.

“O motivo nós já sabemos. É a lógica do “suspeito padrão” que continua operando com as pretas e pretos”, criticou Andreia.

“Um constrangimento que nenhuma pessoa merece passar. Racismo é crime. E a gente vai seguir enfrentando a discriminação em todos os espaços, dentro e fora das instituições”, desabafou a deputada. 

Leninha também utilizou as redes sociais para denunciar o episódio e corroborou o depoimento da colega, afirmando que nenhuma outra pessoa ao redor foi selecionada para a revista. Ela classificou o episódio como racismo velado, por terem sido as únicas pessoas “sorteadas” para passar pelo procedimento.

“Não é coincidência. É padrão. É a cor da nossa pele sendo lida como ‘suspeita’ em um país que ainda normaliza a violência racial disfarçada de protocolo. Mas estamos aqui para denunciar, resistir e lembrar: nenhuma humilhação será silenciada”, criticou. 

“De todos que estavam na fila, só nós, três mulheres negras, que fomos escolhidas”, relatou a deputada Ediane

A reportagem da Agência Brasil entrou em contato com o Aeroporto de Guarulhos e a Polícia Federal (PF) para tratar do caso. Em nota, a PF negou ter abordado as deputadas.

“A Polícia Federal informa que não foi a instituição responsável pela abordagem mencionada pelas três deputadas estaduais que relataram ter sido submetidas a revista na fila do desembarque do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo”, diz a nota.

Já o Aeroporto de Guarulhos informou ser necessário contatar a Receita Federal, que teria feito a abordagem. 

Em resposta à reportagem, a Receita Federal afirmou que respeita os direitos individuais e que, em uma análise inicial das imagens do procedimento, constatou que 21 passageiros — o equivalente a 18% do total do voo — foram selecionados para a inspeção indireta.

“A Ouvidoria da Receita Federal entrará em contato com as parlamentares para fornecer os esclarecimentos necessários e compartilhar os registros disponíveis, resguardando a privacidade dos demais passageiros envolvidos. A apuração será encaminhada à Corregedoria", diz a nota

 

*Matéria foi ampliada às 12h12 do dia 14/04 para inclusão dos posicionamentos da Polícia Federal e do Aeroporto de Guarulhos e às 15h15 do dia 14/04 para inclusão do posicionamento da Receita Federal