Fecomércio-RJ mostra que brasileiro fugiu de compra parcelada em maio
A conjunção de inflação, economia hesitante e tomada de financiamento para o pagamento de dívidas antigas contribuiu para que menos brasileiros fizessem compras a prazo no mês de maio, de acordo com pesquisa da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), em parceria com o Instituto Ipsos.
De acordo com a sondagem - feita com mil consumidores de 70 municípios - a parcela de consumidores brasileiros que tinham alguma conta parcelada a pagar em maio atingiu 40,1%. O resultado foi 6,7 pontos percentuais menor do que em maio do ano passado.
O economista Christian Travassos, da Fecomércio-RJ, disse à Agência Brasil que a redução na tomada de crédito tem sido paulatina. “Não é nenhuma ruptura, nem algo estrutural que ocorreu no mês de maio pelo perfil econômico do consumidor. É uma coisa que vem ocorrendo nos últimos meses, em função de algum impacto continuado da inflação no bolso do consumidor. E, diante desse cenário, o brasileiro mostra mais cautela", analisou.
Junto a isso, lembrou a necessidade de honrar compromissos já assumidos. “Foi uma estratégia do governo puxar a economia pelo consumo. Isso gerou também compromissos a serem assumidos pelo consumidor que, por maior consciência na tomada de crédito e no consumo, adotou estratégia mais cautelosa, não só para poder honrar os compromissos, mas também para sentir como vai andar a economia nos próximos meses, em função de uma atividade também morna”, comentou Travassos.
O importante, segundo o economista, é que apesar do recuo no volume de consumidores com algum tipo de parcelamento, não houve explosão da inadimplência. “Quer dizer, as pessoas não continuaram comprando sem parar, e ficando endividadas sem conseguir pagar. Esse é o ponto positivo da desaceleração”. Ponderou que isso é importante para quando a confiança voltar e os indicadores de inflação e de atividade econômica melhorarem, as pessoas estarem com o nome limpo e poderem voltar a consumir.
A pesquisa revela que no último mês de maio houve diminuição na utilização do cartão de crédito (37,4% em maio de 2013 para 34,5% em maio de 2014) e recuo do crédito pessoal (14,8% para 13,0%). Segundo a Fecomércio-RJ, a tomada de financiamento para o pagamento de dívidas evolui desde fevereiro, e chegou ao maior nível do ano em maio como opção para 17,1% dos que têm algum parcelamento.
Apesar de toda a cautela, a parcela dos que dizem que o orçamento familiar está no limite (45,8%) superou o volume de brasileiros (33.3%) que relataram sobra de alguma quantia do rendimento mensal após o pagamento das dívidas. Christian Travassos considerou normal esse comportamento, que se verifica em toda a série histórica do perfil. Segundo ele, “a conta certa é historicamente maior do que a sobra. Nós temos um em cada três brasileiros com sobra no orçamento ao fechar as contas, resultado dessa pisada no freio”. Isso também se refletiu na Pesquisa Mensal do Comércio feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e nos indicadores da economia como um todo, lembrou.
Se para uns sobrou um pouco de dinheiro, 18,3% dso entrevistados disseram que faltaria recursos no fim do mês. O economista destacou, porém, que nem todos esses consumidores estão inadimplentes. O contingente de brasileiros que têm conta bancária e cartões de crédito, entre outras ferramentas de crédito, tem aumentado, o que funciona como um empecilho à inadimplência.
Travassos disse que até o final do ano a sazonalidade é um fator benigno, que favorece o país. “Daqui para o final do ano são mais contratações, ainda que temporárias. A gente entra na reta final de festas como o Dia da Criança e o Natal, e como o brasileiro pisou no freio, ele estará com melhores condições para consumir. Esse é o lado bom”. O maior ou menor consumo a partir daí vai depender do grau de confiança do brasileiro, apontou. Para 2015, ele acredita que a tendência é de limpeza do cenário, com “esse freio do consumidor ficando aos poucos para trás”.
Fonte: Cai volume de brasileiros com parcelamento diante da economia morna e da inflação