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Economia

Editores e livreiros cobram de candidatos medidas para superar crise

Letycia Bond e Alex Rodrigues - Repórteres da Agência Brasil
Publicado em 26/10/2018 - 18:34
Brasília
Brasília - A Feira do Livro de Brasília chega à 32ª edição, com o tema “Meu mestre, meu livro”. A programação inclui palestras, bate-papos, além de lançamentos e apresentações (Antônio Cruz/Agência Brasil)
© Antonio Cruz/Agência Brasil

Às vésperas do segundo turno das eleições, o Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel) divulgou hoje (26) uma carta aberta aos presidenciáveis Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) apresentando alguns dos anseios dos setores de cultura e educação. Segundo a entidade, independentemente do resultado do pleito, o Estado deve demonstrar comprometimento com uma educação inclusiva e a livre circulação de ideias.

"Para tanto, o primeiro pilar de sustentação é a garantia da liberdade de expressão, com amplo espaço para o debate e sólido respeito às diferenças. O livro é estofo para formação humana e crítica e, aliado à educação de qualidade, é capaz de conduzir um povo à construção de cidadania, à consciência da equidade e à pluralidade de pensamento – valores caros à democracia e norteadores do nosso ofício como profissionais do meio editorial", escrevem o presidente e a vice-presidente do Snel, Marcos da Veiga Pereira e Mariana Zahar.

Na mensagem, os representantes do sindicato também assinalam como "aspecto imperativo" a defesa da criatividade, que consideram ser a matéria-prima da produção cultural, literária e intelectual do país. A entidade defende, ainda, que o governo garanta verbas públicas para programas de capacitação de professores e a manutenção de bibliotecas públicas.

"Para termos uma nação leitora também se fazem necessários investimentos robustos na formação de professores, bibliotecários e mediadores de leitura. Além do fortalecimento do sistema de bibliotecas públicas, tornando-as mais atrativas aos jovens leitores e cuidando de sua manutenção, gestão, da compra e da renovação de acervo, de forma descentralizada", diz o sindicato.

Segundo as entiaddes, um setor livreiro economicamente saudável é essencial para o projeto de transformação e consolidação social de que o Brasil necessita. "O compromisso com a oferta de leitura e educação à população brasileira deve ser visto como uma das prioridades do novo governo, pois trará resultados engrandecedores para um país que urge deixar para trás um passado espinhoso e mirar num futuro mais coeso e próspero", finaliza.

Crise

Entre 2006 e 2017, o faturamento do setor caiu 21% segundo a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, elaborada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), e divulgada em maio deste ano, pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Snel. O percentual representa uma perda de R$ 1,4 bilhão no período.

Um segundo indicador do mercado, o Painel das Vendas de Livros no Brasil, aponta uma melhora do cenário ao longo dos nove primeiros meses deste ano, quando o faturamento do varejo aumentou 9,33% em comparação ao mesmo período do ano passado, com um crescimento de 5,7% no número de exemplares. A recuperação, no entanto, é tímida, conforme disse ontem, à Agência Brasil, o presidente do Snel, Marcos da Veiga Pereira.

Nesta semana, a tradicional rede de livrarias Cultura entrou com um pedido de recuperação judicial. Endividada e confrontada com o aumento das vendas pela internet, a empresa que já vinha fechando lojas deficitárias e que, na semana passada, encerrou as operações da rede de livrarias e produtos eletrônicos Fnac, foi mais um grupo econômico forçado a reestruturas seus negócios devido à crise que há anos atinge o mercado editorial. 

Em abril, a BookPartners, distribuidora responsável por uma significativa parcela do mercado de livros científicos, técnicos e profissionais no Brasil já tinha pedido recuperação judicial. A editora brasileira Cosac Naify encerrou suas atividades no fim do ano passado.

Regulação

Snel e Câmara Brasileira do Livro (CBL) cobram a rápida aprovação de uma Política Nacional de Regulação do Comércio de Livros que, entre outras coisas, regulamente a definição dos preços dos livros. A proposta estabelece que o preço de comercialização de cada livro seja estabelecido pelas editoras, com uma variação máxima de 10% durante determinado período.

Na prática, a regulação proposta impediria as livrarias, principalmente as digitais, oferecerem descontos superiores a 10% sobre o preço sugerido. Segundo o Ministério da Cultura, a sugestão é semelhante ao “modelo de regulação já praticado internacionalmente e visa a combater à concorrência predatória, num momento em que a crise no mercado editorial alcança proporções preocupantes”.

Em um documento endereçado ao ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, a CBL sustenta que a concessão de descontos sem quaisquer critérios levou os consumidores a perderem a real noção do valor dos livros. “De uns tempos pra cá, nossos negócios passaram a competir pelo menor preço, prejudicando o setor. Nenhum negócio resiste a esta prática e boa parte dessa crise é oriunda disso”, afirma a CBL

A entidade defende que a aprovação da Política Nacional de Regulação do Comércio de Livros pode alavancar o setor e cooperar para a recuperação e continuidade dos negócios do mercado.