BC projeta queda forte da economia no primeiro semestre deste ano
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) projeta forte queda da economia por causa do coronavírus. A informação foi divulgada hoje (12), em Brasília, na ata da última reunião do Copom, que reduziu a taxa básica de juros, a Selic, em 0,75 ponto percentual, para 3% ao ano.
Segundo a ata, “embora haja poucos dados disponíveis para o mês de abril, há evidência suficiente de que a economia sofrerá forte contração no segundo trimestre deste ano”.
Para o comitê, se não houver “avanços médicos” no combate à pandemia, “é plausível um cenário em que a retomada, além de mais gradual do que a considerada, seja caraterizada por idas e vindas”.
“O cenário básico considerado pelo Copom passou a ser de uma queda forte do PIB [Produto Interno Bruto – soma de todos os bens e serviços produzidos no país] na primeira metade deste ano, seguida de uma recuperação gradual a partir do terceiro trimestre deste ano”, diz a ata.
Limite mínimo para a taxa Selic
Segundo a ata, o comitê discutiu sobre a possibilidade de existência de um limite mínimo para a taxa Selic.
“A maioria dos membros ponderou que o limite seria significativamente maior em economias emergentes do que em países desenvolvidos, devido à presença de um prêmio de risco [retorno adicional cobrado por investidores para aceitar correr maior grau de risco]. Foi ressaltado que esse prêmio tende a ser maior no Brasil, dadas a sua relativa fragilidade fiscal e as incertezas quanto à sua trajetória fiscal prospectiva. Nesse contexto, já estaríamos próximos do nível onde reduções adicionais na taxa de juros poderiam ser acompanhadas de instabilidade nos mercados financeiros e nos preços de ativos”, diz a ata.
Por outro lado, descreve o documento, um membro do Copom argumentou que, em princípio, não há razão para a existência de um limite mínimo, já que os efeitos de alterações da Selic na economia continuam “operantes, sem descontinuidades”.
“O comitê como um todo reconheceu a importância de gradualismo na condução da política monetária para avaliação da resposta dos preços de ativos financeiros”, concluíram os membros do Copom.
Inflação
Para o Copom, “o impacto da pandemia sobre a economia brasileira será desinflacionário e associado a forte aumento do nível de ociosidade dos fatores de produção”.
“A elevação abrupta da incerteza sobre a economia deve resultar em aumento da poupança precaucional e consequente redução significativa da demanda agregada”, destaca.
Segundo o comitê, as projeções de curto prazo tiveram “revisões relevantes e incorporam a perspectiva de deflação significativa nos próximos meses”.
O Copom explica que “houve recuo adicional no preço do petróleo e queda acentuada nos preços do produtor doméstico de combustíveis, que seguirão repercutindo, nas próximas semanas, sobre os preços ao consumidor”. “Os resultados mais recentes dos índices de preços evidenciaram efeitos desinflacionários significativos sobre preços de serviços e de bens industriais”, afirma.
Nos cenários para a inflação, foi considerado que o preço do petróleo (Brent) subirá cerca de 40% entre a média na semana anterior à da reunião do Copom e o final de 2020.
No cenário com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus (mercado financeiro) e o dólar a R$ 5,55, a inflação será de 2,4% em 2020 e 3,4% em 2021.
Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 2,75% ao ano e se eleva até 3,75% ao ano em 2021. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 0,7% para 2020 e 3,9% para 2021.
No cenário com taxa de juros constante a 3,75% ao ano e taxa de câmbio constante a R$ 5,55, as projeções ficam em 2,3% para 2020 e 3,2% para 2021. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 0,7% para 2020 e 3,8% para 2021.
Próximos passos
Para a próxima reunião, em junho, o Copom considera “um último ajuste, não maior do que o atual [redução de 0,75 ponto percentual], para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da covid-19”. No entanto, o comitê disse que “novas informações sobre os efeitos da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos”.