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Human Rights

Comunidades quilombolas urbanas buscam reconhecimento e inclusão

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Carolina Pêssoa - Repórter da Rádio Nacional
12/11/2024 - 09:02
Rio de Janeiro
Cidade Ocidental (GO), 20/07/2024 - Festival Latinidades promove, no Quilombo Mesquita, diálogos sobre as estratégias e tecnologias ancestrais dos povos e comunidades tradicionais para enfrentar desafios ambientais e sociais. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Símbolos da resistência dos negros escravizados, os quilombos mantém até hoje tradições culturais dos povos que os originaram, como a religiosidade, danças e cantos.

Mais do que abrigar fugidos da escravidão e seus descendentes, esses espaços se transformaram em núcleos de preservação da cultura e da história de luta dos negros no Brasil.

Muitas dessas comunidades surgiram e cresceram em cidades, enfrentando desafios ainda hoje vistos, como falta de serviços de saúde, educação e saneamento. São os chamados quilombos urbanos.

Para o professor de história da Universidade Federal da Bahia, Carlos Eugênio Líbano Soares, os quilombos tiveram importância  fundamental para preservação de um legado...

“Esses quilombos urbanos foram importantes na manutenção de tradições africanas, alteradas pela diáspora, tradições africanas do meio rural e do meio urbano. Depois do fim da escravidão elas vão se perpetuar. A gente fala da capoeira, a gente fala do samba, a gente fala do candomblé, a gente fala da umbanda, a gente fala do maracatu”.

O especialista também ressalta que um grande desafio enfrentado pelos quilombos urbanos atualmente é a inclusão em políticas públicas...

“O principal é eles se tornarem prioridade das políticas urbanas, porque boa parte das cidades, principalmente, não as capitais, mas as cidades do interior, não priorizam essas comunidades. Não há uma política de promover a integração efetiva dessas comunidades ao conjunto da cidade”.

Um exemplo de quilombo urbano que luta por sua preservação e reconhecimento é o Camorim, no Estado do Rio de Janeiro. Ele fica em Jacarepaguá, bairro da Zona Oeste da capital fluminense.

Thaís da Silva Oliveira, professora da associação cultural da comunidade, explica os desafios enfrentados...

“O quilombo Camorim enfrenta desafios urgentes, tanto na esfera social, quanto na política. Socialmente há desafios de garantir que a comunidade seja reconhecida e respeitada. A identidade quilombola enfrenta muito preconceito, desinformação sobre a sua importância histórica, histórica e cultural. Porque muita gente não sabe o que é quilombo até hoje”.

Mas, apesar das dificuldades, existem também iniciativas de preservação. O Quilombo Urbano Agbara Dudu, também no Rio, na Zona Norte carioca, acaba de ser considerado patrimônio histórico, cultural e imaterial do Estado.

Elias José Alfredo, presidente do grupo, explica a importância deste reconhecimento.

“Para nós é de muito orgulho, porque isso remete a nossa contribuição a um processo histórico civilizatório na região do estado do Rio de Janeiro. O Agbara surge com essa concepção. A gente quando surge, tendo como meta fazer valer a nossa identidade afro-cultural, a gente aponta alguns caminhos, por exemplo, no que diz respeito à educação, mas também buscando intervir sobre os setores marginalizados da sociedade, que são as comunidades e favelas, morros, sistema penitenciário”.

A identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação de terras ocupadas por remanescentes de quilombos é regulamentada pelo decreto 4887, de 2003.