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Internacional

Cientistas alertam para mudança radical em políticas climáticas

Antes raros, eventos extremos estão cada vez mais frequentes
Carla Quirino – repórter da RTP*
Publicada em 29/08/2023 - 11:01
Lisboa
Morro da Oficina, em Petrópolis local mais atingido pela enchente há um mês
© Tomaz Silva/Agência Brasil
RTP - Rádio e Televisão de Portugal

"Somos muito mais vulneráveis do que pensávamos. A nossa vulnerabilidade está nos dando um tapa na cara" avisam os especialistas que deixam claro, mais uma vez, que uma ação urgente pró-clima é necessária. Das altas temperaturas às chuvas torrenciais repentinas, dos incêndios florestais à seca, as condições meteorológicas extremas são apenas a "ponta do iceberg", alertam os cientistas.

Em uma década, caso não haja forte estratégia climática, os fenômenos meteorológicos extremos de 2023 vão se tornar o novo normal, dizem os principais pesquisadores do clima do mundo em uma publicação do britânico The Guardian, que lhes pediu uma avaliação sobre a crise climática. Segundo eles, efeitos "ainda piores" estão para vir.

Os cientistas destacaram a dificuldade em antecipar esses eventos climáticos extremos que seriam, por definição, raros. Eles argumentam que os modelos meteorológicos estão se alterando muito rapidamente, o que deixa o mundo “a voar parcialmente às cegas” em direção a um futuro cada vez mais imprevisível.

“Julho foi o mês mais quente da história da humanidade e as pessoas em todo o mundo estão sofrendo as consequências”, afirma o professor Piers Forster, da Universidade de Leeds, no Reino Unido. “Mas isto é o que esperávamos neste nível de aquecimento. Este será um verão médio para os últimos 10 anos, a menos que o mundo coopere e coloque a ação climática no topo da agenda”.

“Os impactos são assustadoramente mais chocantes do que eu, e muitos cientistas climáticos que conheço, esperavam”, sublinha o professor Krishna AchutaRao, do Instituto Indiano de Tecnologia.

Christophe Cassou, investigador do CNRS na Université Paul Sabatier Toulouse III, em França, acrescenta que “as mudanças nos riscos [climáticos] não foram subestimadas, mas os impactos esses sim foram subestimados porque somos muito mais vulneráveis do que pensávamos – a nossa vulnerabilidade está nos dando um tapa na cara”.

Recordes

Em 2023, as temperaturas registaram recordes históricos e os incêndios florestais continuam a devorar milhões de hectares de floresta por todo o mundo, desde a América do Norte à Europa e à Ásia. Por isso “sentimos agora que as alterações climáticas estão acima do clima normal” declara Cassou.

Incêndio florestal na ilha de Corfu, na Grécia. 23/07/2023. Julia Dzhyzhevska/ REUTERS
Incêndio florestal na ilha de Corfu, na Grécia, no mês de julho, o mais quente da história - Julia Dzhyzhevska/REUTERS

Ponto da virada

Os cientistas acreditam que o planeta ainda não chegou ao ponto de virada para uma mudança climática descontrolada. Mas Rein Haarsma, do Instituto Meteorológico Real Holandês, alerta para a aproximação desse momento. “Os extremos que vemos acontecer agora podem induzir pontos de inflexão, como o colapso da circulação meridional do Atlântico e o descongelamento das calotas polares da Antártida, que tem impactos devastadores”.

Porém, os cientistas dizem que permanece aberta uma “pequena janela” de oportunidade para evitar o pior cenário da crise climática, e apontam o dedo para responsabilizar o uso de combustíveis fósseis.

“Precisamos parar de queimar combustíveis fósseis”, reitera Friederike Otto, do Imperial College London: "agora! Não é um momento que se permita que as empresas continuem lucrando todo o dinheiro possível”.

A esta voz, junta-se também a crítica de Emily Shuckburgh, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido: “qualquer pessoa que de alguma forma perpetue a era dos combustíveis fósseis está firmemente do lado errado da história”.

“Saber que olharemos para trás, para os acontecimentos extremos de hoje, como algo brando em relação ao que está povir é verdadeiramente alarmante”, acrescenta Andrea Dutton, da Universidade de Wisconsin-Madison, EUA. E deixa uma mensagem clara: “a velocidade com que fizermos esta transição definirá o futuro que teremos.”