Haitianos ainda aguardam Carteira de Trabalho para aceitar emprego em São Paulo

Publicado em 29/04/2014 - 16:36 Por Camila Maciel – Repórter da Agência Brasil - São Paulo

Pelos menos 176 vagas foram oferecidas hoje (29) aos imigrantes haitianos que estão abrigados na Igreja Nossa Senhora da Paz, no Glicério, no centro da capital paulista. Durante a manhã, sete empregadores estiveram na paróquia, que abriga o Centro do Migrante, para selecionar trabalhadores para vagas de mecânico de caminhão, porteiro, auxiliar de limpeza, serviços gerais em supermercado, entre outras.

Apesar da oferta, o pedreiro Osner Timat, 27 anos, ainda aguarda uma vaga em uma obra de construção civil. “É a minha profissão. Vim para cá para dar mais oportunidade para minha família. Tenho três filhos pequenos que continuam lá [no Haiti]”, contou. Assim como ele, cerca de 60 haitianos, que estão com os documentos em mãos e aguardam para serem selecionados, esperam uma oportunidade no setor de construção. A maioria deles, no entanto, não poderia sequer aceitar a vaga, pois ainda espera a emissão da Carteira de Trabalho.

Desde o fechamento do abrigo para haitianos em Brasileia, no Acre, no início deste mês, São Paulo vem recebendo uma quantidade muito superior ao que era comum. De acordo com a paróquia, desde o último dia 12 chegaram mais de 450 haitianos, metade do total de imigrantes registrados nos primeiros três meses do ano. Grande parte chegou à cidade com passagens pagas pelo governo acriano.

A mediação das ofertas de emprego foi feita pelas assistentes sociais da igreja, que, por sua vez, reclamaram que muitos estrangeiros ainda estão sem a Carteira de Trabalho, apesar do mutirão para emissão do documento feito pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego na última sexta-feira (25). Na ocasião, foram entregues 88 documentos e a promessa era que hoje o posto de atendimento seria transferido para a paróquia, o que não ocorreu durante a manhã.

A superintendência esclareceu que não foi possível transferir o sistema de emissão, pois é necessário estar em rede para conferir os dados, inclusive com outros órgãos, especialmente em se tratando de imigrantes. O superintendente regional do Trabalho e Emprego, Luiz Antonio Medeiros, disse, no entanto, que a emissão seria retomada na sede do órgão. “Hoje à tarde vamos entregar mais carteiras, vamos retomar o mutirão”, garantiu.

A gerente de uma rede de supermercados, Jussara Oliveira, foi uma das empregadoras que estiveram na igreja para selecionar funcionários. “Já fiz um trabalho como este em outra empresa e vi que eles têm um comprometimento maior. Nós acreditamos que esse perfil vai funcionar”, apontou. O salário-base é R$ 1.050 mais benefícios. Sobre a dificuldade que alguns podem ter com o português, ela informou que a empresa pode oferecer aulas para esses trabalhadores.

O padre Alejandro Cifuentes informou que todos os dias chegam mais estrangeiros, a maioria vinda de ônibus do estado do Acre. No salão paroquial, que foi improvisado para acolher os haitianos, dormiram 170 na última noite.

Ele destacou que havia mais de 200, mas uma paróquia no bairro Tucuruvi, na zona norte, se dispôs ontem (28) a receber 30 pessoas. Além disso, 110 imigrantes, incluindo de outras nacionalidades, estão na Casa do Migrante, local mantido pela igreja.

Sobre a ajuda do Poder Público, Cifuentes destacou que o mais importante é a disponibilização de um espaço para acolher os haitianos. “Nós estamos esperando um lugar adequado para acolher essas pessoas, principalmente as que estão no salão. Aqui não tem chuveiro, são sete sanitários. É uma coisa impossível”, relatou. Ele informou que, por enquanto, a ajuda se resume a colchões, cobertores e à alimentação.

A partir de hoje, o governo estadual vai oferecer 200 refeições, sendo café da manhã e almoço, no Bom Prato da Rua 25 março, que fica a 800 metros da igreja. O programa, que serve diariamente refeições a R$ 1, será ampliado para atender gratuitamente aos haitianos. A ação é emergencial e terá duração de pelo menos 60 dias. “Tomamos essa ação corretiva pela falta de planejamento, pela falta do aviso-prévio do deslocamento dessas pessoas para cá”, explicou o secretário de Desenvolvimento Social, Rogerio Hamam, ao visitar hoje a paróquia.

O secretário destacou que a política de assistência é responsabilidade do governo municipal, mas que poderá assumir algumas ações. “Em uma situação de emergência, de calamidade, não cabe sair distribuindo atividades, é uma ação integrada e, se prefeitura encontrar qualquer dificuldade, o governo vai apoiar”, garantiu.

Edição: Juliana Andrade

Últimas notícias