Milicianos movimentavam R$ 1 milhão por mês na zona norte do Rio
A Polícia Civil prendeu 16 pessoas envolvidas com milícias na zona norte do Rio de Janeiro e apreendeu um fuzil, três veículos de luxo, uma granada, 2 mil munições de uso exclusivo das Forças Amadas, além de coletes e documentos que comprovam a prática desempenhada pela quadrilha. Na ação, os agentes estouraram também dois bingos clandestinos.
De acordo com o titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais, Alexandre Capote, a quadrilha movimentava em torno de R$ 1 milhão por mês. Entre os presos estão cinco policiais militares, um ex-policial militar e um guarda municipal - todos com mandados de prisão expedidos pela Justiça. O líder da organização criminosa, identificado como Tarcisio Albuquerque de Moura, entregou-se à polícia na parte da tarde.
A investigação durou quase um ano. Segundo o delegado Capote, a milícia atuava desde 2007 nas comunidades do Fubá, Campinho e Caixa d'Água. Dentre os 48 mandados de prisão preventiva expedidos pela Justiça, 14 são reincidentes e já passaram pelo sistema penitenciário do Estado.
Durante a operação, a mulher de Tarcísio e um tio dela foram presos em flagrante. No carro dela foram encontrados carregadores de fuzil e munições. Na delegacia, Tarcísio assumiu que o armamento era dele. Então, a mulher e o tio foram liberados. Também foi preso em flagrante o pai de um dos milicianos, que a polícia abordou procurando pelo filho, e reagiu com disparos de arma de fogo. Ele está sendo autuado por tentativa de homicídio, resistência e porte ilegal de arma de fogo.
"É uma milícia bastante perigosa e audaciosa", disse o delegado. Ele explicou que a organização criminosa desempenhava atividades costumeiras das milícias, além de explorar bingos. "Estouramos dois bingos nas regiões de atuação dessa milícia – um deles instalado na Associação dos Moradores de Campinho. Não era ao lado, nem perto; era dentro da associação. Um bingo muito bem montado, com maquinário de última geração, que recolhia dinheiro para essa organização criminosa", ressaltou Capote.
Ainda segundo o delegado, os milicianos divulgavam, nas redes sociais, fotos dos corpos de suas vítimas, como forma de intimidar os moradores das comunidades em que atuavam.
"Eles também controlavam a venda de cerol e pipa para as crianças que residem lá. Não havia interesse financeiro nisso, porque as pipas e o cerol não têm valor insignificativo, mas funcionava como marketing, uma manobra para mostrar às crianças que vivem naquele ambiente que os identificassem como líderes da região, como as pessoas que realmente mandam e ditam a ordem nessas localidades", disse Capote.
O delegado substituto Luiz Augusto Braga ressaltou que a milícia interferia na vida das pessoas dessas comunidades e revelou que o grupo está envolvido na execução de dois adolescentes de 15 anos, no início deste ano. "É uma organização criminosa, porque vai além dos crimes que a milicia costuma praticar, e tem uma estrutura muito mais sofisticada e hierarquizada." Braga informou que as investigações ganharam força após a morte dos dois adolescentes, que foram a um baile funk, no Morro do Dezoito, comandado pelo tráfico. "Os moradores estavam proibidos de frequentar determinadas comunidades de que eles não gostavam", explicou o delegado.
Segundo Braga, as exigências dos milicianos iam além de decidir sobre vida e morte: eles queriam determinar e regulamentar pequenas condutas e hábitos muito particulares das pessoas que lá moravam, querendo demonstrar poder, dizendo o que poderiam fazer ou não.
"Um rapaz mantinha um relacionamento amoroso com uma jovem de outra comunidade, e os milicianos proibiram o casal de namorar, mas o rapaz não se submeteu a essa exigência absurda e, por conta disso, teve o carro subtraído e a casa também, perdeu tudo que tinha. Ele continuava pernoitando na casa da tia, e esse grupo expulsou a tia de casa", relatou Braga.
Fonte: Milicianos movimentavam R$ 1 milhão por mês na zona norte do Rio