Parentes de vítimas do Pavilhão 9 protestam em Fórum da Barra Funda

Publicado em 13/10/2015 - 19:19 Por Elaine Patricia Cruz - Repórter da Agência Brasil - São Paulo

Parentes e amigos das oito pessoas que foram executadas na quadra da torcida organizada Pavilhão 9 neste ano fizeram um protesto hoje (13) na frente do Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista, local onde nesta terça ocorreu a segunda audiência de instrução do caso. No protesto, as famílias estenderam faixas cobrando justiça para o caso.

Aline Pereira, que integra a torcida e era amiga das vítimas, participou do ato. “Estendemos algumas faixas para expressar nossa indignidade”, disse. Segundo Aline, os amigos estavam na sede da torcida quando foram assassinados. “Eles estavam lá. Não faziam mal para ninguém. Não há explicação para alguém entrar lá e sair matando assim”.

A chacina ocorreu no dia 18 de abril deste ano logo após um churrasco na quadra da Pavilhão 9. Por volta das 23h, três pessoas armadas entraram na sede da torcida organizada do Corinthians. Doze torcedores ainda estavam no local quando os criminosos chegaram. Quatro conseguiram fugir, mas os demais foram obrigados a se ajoelhar e, depois, a se deitarem no chão. Todos foram executados. Sete morreram no local. A oitava vítima chegou a ser socorrida, mas morreu no hospital.

Entre os oito jovens que foram assassinados estava Fábio Neves Domingos, 34 anos, um dos 12 torcedores que foi preso em Oruro, na Bolívia, após a morte do torcedor Kevin Spada, em 2013. Spada foi morto por um sinalizador durante um jogo entre o Corinthians e o San José, válido pela Taça Libertadores da América. Além dele, morreram na chacina Ricardo Júnior Leonel do Prado, 34 anos, André Luiz Santos de Oliveira, 29 anos, Mydras Schmidt Rizzo, 38 anos, Marco Antônio Corassa Júnior, 19 anos, Matheus Fonseca de Oliveira, 19 anos, Jhonatan Fernando Garzillo Massa, 21 anos, e Jonathan Rodrigues do Nascimento, 21 anos.

Um desses jovens, Matheus Fonseca de Oliveira, era neto de Roque Fonseca. “Ele [o neto] saia do serviço para a sede, da sede para casa. Ele saiu do serviço no sábado e foi direto para a sede. Ele mexia nas bandeiras, mosaico, eu não entendo disso direito. Quando ele estava com o tecido aberto para fazer a pintura da bandeira, eles [os assassinos] chegaram. Quem correu, correu. Quem não correu, morreu. Ele tentou correr e levou quatro tiros na cabeça”, contou o avô, chorando. "As vezes as pessoas olham para mim e dizem que eu estou bem. Mas é a minha alma que sabe. Quando eu olho uma foto dele, só Jesus para ter misercórdia de mim". 

O avô disse esperar justiça. “Espero pela Justiça dos homens, porque a de Deus será feita, não tenho dúvida. Que os culpados sejam presos. Todas as famílias estão sofrendo, não só as do Pavilhão 9, como de outras chacinas que estão acontecendo por aí também. O que queremos é justiça”. Para o avô, saber do envolvimento de policiais na chacina o chocou. “Policial é para nos proteger, mas eles estão aí matando. Então, que proteção que temos? Só a de Deus”.

Duas pessoas foram presas acusadas pela chacina: o policial militar Walter Pereira da Silva Junior, que também é investigado por participação em uma chacina ocorrida em Carapicuíba, no ano passado; e Rodney Dias dos Santos, um ex-policial militar. Ambos foram indiciados pela polícia e continuam presos. A audiência de instrução ocorrida hoje e que não havia terminado até às 18h de hoje, pode definir se ambos serão levados a júri popular, tornando-se réus.

Na audiência de hoje, várias testemunhas foram ouvidas, algumas de forma sigilosa. Um dos que prestou depoimento hoje foi um dos delegados que presidiu o inquérito, Marcelo Bianchi. Em seu depoimento, o delegado contou que testemunhas que foram ouvidas no inquérito policial reconheceram Silva Junior e Santos como responsáveis pela chacina. Ele disse também que pediu a prisão dos dois por ter convicção de que eles foram os responsáveis pelas oito mortes. “Não temos nenhuma dúvida da autoria”.

Em seu depoimento, o delegado disse ainda que as chacinas são crimes muito difíceis de serem investigados, porque os policias militares que patrulham a área sabem que ela vai ocorrer e vão limpar a área. "Não se encontram as cápsulas [as balas] nesses casos. Walter está na turma que executa [as pessoas]”, disse.

A audiência, aberta, foi acompanhada por advogados dos acusados pelos crimes, pelos acusados, pelas famílias das vítimas, por promotores e defensores públicos.


Fonte: Familiares de vítimas da Pavilhão 9 protestam em Fórum da Barra Funda

Edição: Fábio Massalli

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