Moradores escolhem em votação local do novo distrito de Bento Rodrigues
Moradores do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), devastado após o rompimento da barragem da mineradora Samarco em novembro do ano passado, aprovaram neste fim de semana o local onde a comunidade será reerguida. O terreno escolhido, conhecido como Lavoura, obteve 206 votos, 92% do total. Cada família teve direito a um voto.
A área escolhida pertence à siderúrgica Arcelor Mittal. Em março, a empresa informou à Agência Brasil que estava negociando a venda do espaço à Samarco. Na ocasião, moradores também haviam sinalizado a preferência pelo local, eleito entre três opções.
O terreno escolhido tem 89 hectares. Fica a cerca de 8 quilômetros (km) do centro de Mariana e a aproximadamente 9 km do antigo distrito de Bento Rodrigues. Segundo Antônio Pereira, 47 anos, representante das famílias atingidas, os moradores estão ansiosos. “Queremos que as obras comecem o mais rápido possível. As pessoas não aguentam mais ficar em imóveis provisórios no centro de Mariana.”
Reconstrução
Segundo o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, a ideia é que o novo distrito tenha edificações sustentáveis, com placas para geração de energia solar e estrutura para armazenamento de água da chuva. O projeto também prevê, como medida compensatória, que toda a rede de esgoto do município seja tratada.
A reconstrução do distrito será paga integralmente pela mineradora e consta no acordo assinado com o governo federal e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo, homologado na semana passada pela Justiça Federal. Segundo o acerto, a Samarco deverá desembolsar aproximadamente R$ 20 bilhões para recuperar toda a bacia do Rio Doce em 15 anos.
No entanto, o Ministério Público Federal criticou os parâmetros do acordo e já anunciou que irá recorrer da homologação. Promotores também impetraram uma ação civil pública, na qual calculam os prejuízos em R$ 155 bilhões, bem superior aos R$ 20 bilhões previstos no acordo com a Samarco.
Memorial
O rompimento da barragem da Samarco é considerado a maior tragédia ambiental da história do Brasil. Além de destruir a vegetação nativa e poluir a bacia do Rio Doce, o episódio resultou em 19 mortes. Mesmo com a reconstrução do distrito em um novo terreno, moradores defendem que o local onde existia a comunidade original receba um memorial.
Na semana passada, Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Mariana aprovou por unanimidade o tombamento dos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu. O processo deve levar entre seis meses e um ano para ser concluído, mas a ideia é fazer do local um espaço museológico e cultural. O projeto ainda vai ser detalhado, mas terá também o objetivo de não deixar que o desastre caia no esquecimento.