Rio de Janeiro terá primeira versão estadual do Livro Vermelho da flora ameaçada

Publicado em 22/06/2016 - 17:06 Por Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

As espécies de plantas ameaçadas de extinção no estado do Rio de Janeiro serão listadas em um guia que segue metodologia internacional, chamado de Livro Vermelho, com lançamento previsto para dezembro. O mapeamento está sendo feito pela Secretaria Estadual do Ambiente em parceria com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e o Centro Nacional de Preservação da Flora (CNCFlora), que participaram hoje (22) da Primeira Oficina para a Preservação da Flora Ameaçada de Extinção do Estado do Rio de Janeiro, na Escola Nacional de Botânica Tropical.

O secretário estadual do ambiente, André Corrêa, disse que o Rio será o primeiro estado do Brasil a produzir o Livro Vermelho, que já existe em nível nacional e lista 2.103 espécies ameaçadas. No Rio de Janeiro, há 905 espécies consideradas endêmicas, que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do mundo. Entre elas, 478 já podem ser consideradas ameaçadas de extinção e apenas nove são classificadas como “longe de preocupação”. Uma parte expressiva da amostra, 413 plantas, ainda é considerada deficiente em dados, o que impede que o potencial risco a sua sobrevivência seja identificado.

Mata Atlântica

Rio será o primeiro estado a catalogar as espécies da flora ameaçada pela metodologia do Livro VermelhoArquivo/Agência Brasil 

“Seremos o primeiro estado do Brasil a lançar o Livro Vermelho dentro da metodologia internacional, porque uma das preocupações é que se possa comparar informações”, disse o secretário. Segundo Corrêa, a equipe trabalha no detalhamento das espécies e dos locais em que foram encontradas.

O coordenador-geral do CNCFlora, Gustavo Martinelli, explicou que o Livro Vermelho é uma avaliação de risco validada por um grupo de mais de 300 especialistas internacionais, que pode subsidiar o Poder Público para medidas de preservação. “Se você não tiver essas espécies bem identificadas, você não sabe nem se aquilo é importante ou se não é, ou se está ameaçado ou se não está. A lista é um instrumento muito importante para a tomada de decisão em políticas públicas.”

Metodologia

O livro cataloga as plantas em três níveis: as vulneráveis, as em perigo e as criticamente em perigo. No primeiro nível, a legislação ainda permite o manejo econômico da espécie, desde que com cuidados para que a população não seja reduzida. No último nível, estão as mais próximas da extinção, em que ameaças a um indivíduo podem significar grandes riscos para a espécie.

Entre as mais de 400 espécies com poucos dados disponíveis, algumas não são vistas há 100 anos, e boa parte não é encontrada por especialistas há, pelo menos, três décadas. Esse “desencontro”, no entanto, não significa que estejam extintas ou sequer ameaçadas, o que está sendo verificado pelos pesquisadores. Segundo Martinelli, a produção de conhecimento sobre o assunto pode mostrar que a situação é mais grave do que parece.

“Às vezes, o problema não está no que a gente conhece, mas na ignorância, no que falta conhecer. Quando a gente fala que o Brasil tem 2.103 espécies ameaçadas, esse número não representa nenhuma catástrofe, considerando que o Brasil tem 46 mil espécies. Mas, à medida que essas avaliações e conhecimento vai sendo adquirido, esse número pode aumentar.”

Desconhecimento

Durante a oficina, o economista Sérgio Besserman destacou a ignorância que existe em relação à biodiversidade. “Cada vez que a gente perde uma parte da biblioteca da biodiversidade, a gente perde possibilidades. A gente pode estar perdendo uma molécula que curaria uma doença”, disse ele. Além das ameaças tradicionais, segundo Bessermanm, as mudanças climáticas estão gravando os riscos à biodiversidade.

“Toda a nossa estratégia de preservação está ameaçada pelo aquecimento global. Com dois graus [Celsius] a mais, os arredores de Buenos Aires poderiam virar o Cerrado”, comparou, ao explicar que biomas inteiros podem ser transformados por causa do aumento da temperatura global.

Diretora de Pesquisa do Jardim Botânico, Daniela Zappi, contou que a “ignorância” mencionada pelos especialistas ocorre principalmente quando se trata de grupos com grande biodiversidade, como os insetos ou bactérias. “No caso das plantas terrestres, o maior problema no Brasil está Amazônia. Se formos pensar que na Mata Atlântica a gente registrou 16 mil espécies de plantas com sementes e que na Amazônia foram apenas 11 mil, tem alguma coisa provavelmente muito errada com a nossa conta, porque é muito mais inacessível e muito mais caro, em termos de dinheiro e de risco humano.”

Edição: Luana Lourenço

Últimas notícias