Em greve, técnicos do Ipen decidem boicotar inspeção de risco nuclear nos Jogos

Publicado em 21/07/2016 - 18:31 Por Flávia Villela - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Em greve desde segunda-feira (18), os técnicos do Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (Ipen) decidiram hoje (21), em assembleia, boicotar o envio de 300 agentes da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) para atuar na prevenção, identificação e resposta de riscos nucleares nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. 

Cerca de 30 servidores do Ipen estão incluídos na convocação da Cnem para a Rio 2016. Além do Rio, os técnicos serão enviados às cidades onde haverá partidas de futebol da Olimpíada: Belo Horizonte, Brasília, Manaus, Salvador e São Paulo.

“Sou um desses técnicos convocados para fazer a varredura dos estádios, além de vistoriar hotéis das delegações. Com essa redução salarial, que foi um erro deles [governo], estamos querendo boicotar esse protocolo de material radioativo”, disse o diretor da Associação dos Servidores do Ipen, Claudio Manoel Constâncio, acrescnetando que eles apresentaram emendas a parlamentares. 

Os técnicos do Ipen estão em greve por causa de um impasse salarial. As gratificações da categoria, que correspondem a cerca de 30% dos salários, não foram incluídas no Projeto de Lei nº 33/2016, de reajuste de salários dos servidores federais, aprovado pelo Senado na semana passada, o que causou descontentamento entre os técnicos. Amanhã (22), às 10h, haverá nova assembleia em frente ao setor de produção do instituto, dentro do campus da Universidade de São Paulo (USP), para definir os rumos da greve.

O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, responsável pelo Ipen, disse que adotou todas as medidas necessárias para normalizar a situação dos servidores do órgão provocada pela aprovação do PL 33, que suprimiu a gratificação devida, e que negocia com o Ministério do Planejamento uma alternativa para a solução do problema.

A expectativa do ministério é que, até o início da Olimpíada, a questão esteja superada e os servidores destacados para a inspeção de indícios de radioatividade nos espaços esportivos da Rio 2016 sigam para os locais conforme o planejado. Até lá, a pasta diz que conta com a compreensão dos servidores afetados pelo PL 33 para que mantenham suas atividades.

Fornecimento

Como o Ipen é o principal fornecedor de medicamentos e insumos para a medicina nuclear do país, a produção está prejudicada e os técnicos decidiram hoje bloquear a saída de material do instituto.

Um dos produtos que teve o fornecimento interrompido é o radioisótopo Flúor-18, matéria-prima para realização de um dos mais importantes exames diagnósticos de câncer, o PET-CT. Como o Flúor-18 tem duração de apenas duas horas não é possível armazená-lo em clínicas e hospitais.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), Claudio Tinoco Mesquita, a situação é alarmante e insustentável. “Podem ser impactados mais de dez mil pacientes por dia, que necessitam dos procedimentos diagnósticos e também de tratamentos que se utilizam dos radiofármacos produzidos pelo Ipen. A medicina nuclear brasileira poderá parar, porque hoje o Ipen detém o monopólio deste tipo de radioisótopo”, disse o médico, que defende a abertura do mercado de radiofármacos.

O tecnécio, usado em cintilografia do miocárdio, e o Iodo-131, utilizado em tratamentos de pacientes com câncer de tireoide, de produção exclusiva do Ipen, também estão com o fornecimento suspenso.

 

*Texto ampliado às 19h05

Edição: Luana Lourenço

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