Operação da PF investiga governador da Bahia, ex-ministros das Cidades e OAS

Grupo é suspeito de prática de financiamento ilegal de campanhas e

Publicado em 04/10/2016 - 12:48 Por Sayonara Moreno - Correspondente da Agência Brasil - Salvador

Agentes da Polícia Federal cumpriram mandados da Operação Hidra de Lerna na sede estadual do PT em Salvador, nas empresas de publicidade Propeg e na construtora OAS, também investigada na Lava Jato. Entre os investigados da operação está o governador da Bahia, Rui Costa (PT), suspeito de ter recebido financiamento ilegal na campanha que disputou para o cargo em 2014. Outro investigado é o ex-ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP) – atual conselheiro do Tribunal de Contas da Bahia, cuja residência também foi alvo de buscas da PF, no bairro Itaigara.

O ex-ministro das Cidades, Márcio Fortes, também é investigado, no Rio de Janeiro. Atualmente, ele trabalha na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). 

A Operação Hidra de Lerna foi deflagrada em Brasília, Salvador e no Rio de Janeiro. Ao todo, são 16 mandados de busca e apreensão, deferidos pela ministra Maria Thereza Rocha de Assis Moura, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), devido ao foro privilegiado de alguns investigados. A Polícia Federal não divulgou quantos mandados são cumpridos em cada cidade.

O operação investiga um grupo criminoso suspeito de prática de financiamento ilegal de campanhas e fraudes em licitações e contratos do Ministério das Cidades. Segundo a PF, a construtora OAS contratava empresas do ramo de comunicação, como a Propeg, para elaborar campanhas para o ramo da construção civil. No entanto, as empresas faziam campanhas para partidos políticos. Outra linha de investigação apura fraudes em licitações e contratos no Ministério das Cidades.

De acordo com a PF, o nome da operação Hidra de Lerna é uma referência à figura da mitologia helênica, que ao ter a cabeça cortada, ressurgiu com duas cabeças. A investigação é fruto de três colaborações da Operação Acrônimo, e exige a abertura de dois inquéritos, pelo STJ.

Defesa

O advogado de Negromonte, Carlos Fauaze, confirmou a presença da polícia na casa do ex-ministro, mas disse que não irá se manifestar sobre o assunto até ter acesso aos autos da operação. O advogado afirmou que a PF levou dois aparelhos de celular da casa de Negromonte, mas nenhum documento “porque os agentes não julgaram importantes para a investigação”. Segundo o ex-ministro, até o momento, não há indício material que confirme as declarações de qualquer colaborador contra ele, “muito embora as investigações já se arrastem por mais de dois anos”.

Em nota, a Propeg, empresa de comunicação, confirmou que as buscas foram feitas nos escritórios da empresa - em Brasília e Salvador – e nas residências de executivos da companhia. A empresa disse que auxilia as investigações desde junho deste ano e nega que os fatos apurados tenham “qualquer ligação com o PT, o governo da Bahia e com a empresa OAS”.

O governador da Bahia, Rui Costa, demonstrou, por meio de nota, estranheza e indignação ao saber que está sendo investigado pela Polícia Federal, que deflagrou, na manhã de hoje (4), a Operação Hidra de Lerna, em Salvador, Brasília e Rio de Janeiro. O governador nega ter qualquer informação a respeito da operação.

O governador diz estar “à disposição da sociedade e das autoridades competentes para prestar os devidos esclarecimentos com máxima transparência sobre qualquer assunto”.

Sobre as contas da campanha de 2014 – objeto de investigação da PF - , Rui Costa garante que foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), por unanimidade. Além disso, ele diz que “todas as dívidas contraídas durante o processo eleitoral” foram registradas, “não deixando débitos sem registro”.

Ainda sobre as investigações, a nota faz referência à empresa de publicidade, Propeg – uma das investigadas na operação de hoje – e nega qualquer “tipo de relação pessoal ou profissional com a empresa”. Rui Costa finalizou a nota dizendo estar atento “às manobras que visem atingir” sua imagem política.

A reportagem entrou em contato com a OAS, por e-mail, e aguarda retorno.

Em nota, o Ministério das Cidades diz que não recebeu, na manhã desta terça-feira, nenhuma notificação sobre a operação da PF envolvendo recursos da pasta. O ministério informa ainda que, em poder das informações, terá condições de avaliar do que se trata e capacidade de instaurar, imediatamente, “processos administrativos disciplinares para investigar a denúncia”. O órgão ressalta a disponibilidade em colaborar com todas as informações necessárias para garantir eficiência e transparência na aplicação dos recursos citados.

A Agência Brasil procurou a assessoria de Márcio Fortes que informou que ele irá se manifestar ainda hoje por nota ou entrevista à imprensa.

Em nota, o diretório do PT na Bahia argumentou que o mandado de busca e apreensão cumprido na sede da legenda era genérico. Conforme o partido, integrantes do Departamento Jurídico estiveram no local, após a operação, e afirmaram que “o mandado de busca e apreensão era desacompanhado da decisão, não dizia o objeto da apreensão, não tinha nome de empresas nem o ano a que se refere”.

O partido ainda denomina como “arrombamento” a ação no local, às 6h,horário em que, segundo a nota, não há funcionários do partido. Os documentos levados pela PF, segundo o PT-BA, são referentes às contas da campanha de 2014, no estado, “aprovadas por unanimidade”. A nota afirma ainda que o partido “esteve à disposição da Justiça, mas nunca foi procurado para prestar qualquer informação. Por isso, considera desnecessários o arrombamento e o sensacionalismo desta ação”.

*Texto atualizado às 21h11 para incluir posição do governador Rui Costa

Edição: Carolina Pimentel

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