Moradores reclamam de proibição de festa de Ano-Novo em comunidade do Rio

Publicado em 28/12/2016 - 19:58 Por Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Moradores da comunidade Mandela 2, uma das mais pobres da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, não devem ter festa de Ano-Novo no local por ordem da comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Arará-Mandela, major Paula Andressa das Chagas Frugoni, que justificou a medida por falta de aval do Corpo de Bombeiros para o evento. No Natal, a comemoração coletiva na comunidade foi suspensa pelo mesmo motivo.

Alguns moradores se sentem discriminados pela Polícia Militar por causa da proibição. “Moro aqui há 50 anos e a gente sempre teve essa tradição de fazer nossas festas na rua. A gente vê o lado da UPP, mas é um dia extraordinário. A gente não tem como ir à Copacabana, não tem dinheiro para levar a família para lá. A gente não tem como ficar trancado dentro de casa. Queremos manifestar nossa cultura da maneira que nós achamos melhor, não o que os outros impõem. É como se fosse no tempo da senzala, quando os outros mandavam e a gente obedecia”, protestou a psicopedagoga Norma Maria.

O presidente da Associação de Moradores da Embratel, uma pequena comunidade que faz parte do Mandela, Márcio Barbosa Lima, também reclamou da proibição, que ele considera ditatorial. “Nós nunca tivemos este problema. A comandante da UPP que chegou agora está alegando que precisa do aval dos Bombeiros, mas eles mesmo disseram que não se responsabilizam por isso, pois não é um ambiente fechado nem terá montagem de palco. A gente já foi discriminado com o samba, com o funk, com o pagode. Estamos regredindo para uma ditadura, de pessoas que acham ter o poder da farda para proibir. Todas as comunidades têm e terão eventos. Estamos sendo discriminados, desrespeitados e tirados do nosso direito de se divertir e confraternizar.”

Para o presidente da Associação de Moradores da Comunidade Mandela 2, Francisco de Assis, a determinação da UPP demonstra inflexibilidade da nova comandante com os moradores, apesar da ausência de confrontos armados no local nos últimos meses. “Falta bom senso da comandante. Nossa comunidade é pacífica, está tranquila, ela tem apoio da associação, estamos trabalhando juntos. Infelizmente ela não colaborou em realizar o nosso evento. Mais uma vez a comunidade vai ficar frustrada. Temos uma UPP para estar juntos, dar o nosso direito de ir e vir, mas desse jeito estamos oprimidos aqui dentro, sem direito à nada”, desabafou.

Procurado pela Agência Brasil, o comando da UPPs respondeu por meio de nota em que informa os motivos da negativa para realização da festa e diz que as regras são determinadas pela Secretaria de Segurança.

“As normas para a realização de eventos em espaços públicos estão estipuladas na resolução da Secretaria de Segurança que regulamenta o tema [Resolução nº 013 da Seseg e Resolução conjunta Seseg/Sedec nº 134]. Segundo o comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Arará/Mandela, o evento ainda não está autorizado porque não atendeu algumas exigências de documentação”, diz o texto.

A resolução citada tem 35 artigos e não faz distinção entre eventos comerciais de grande porte e manifestações populares gratuitas, como as que ocorrem nas comunidades.

Falta de luz

Outro problema relatado pelos moradores da comunidade Mandela é a constante falta de luz. Esta semana, por exemplo, alguns pontos estão sem luz desde a noite de ontem (27), mesmo após reclamações à Light, concessionária de energia da cidade.

Em nota, a Light informou que já havia deslocado uma equipe para atender a ocorrência e atribuiu o problema aos furtos de energia, que causam desestabilização e sobrecarga na rede. “Importante ressaltar que, no verão, as ocorrências aumentam em razão do elevado número de 'gatos de energia' Os equipamentos da Light são dimensionados para atender o número de clientes regulares/formais, e não os fraudadores. Com o elevado índice de furto na área de concessão da empresa a rede fica sobrecarregada e, com isso, acontecem interrupções de energia, prejudicando, inclusive, clientes formais que pagam suas contas em dia.”

*Texto ampliado às 20h20

Edição: Luana Lourenço

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