Questão da água precisa ser coletiva e não individualista, diz sociólogo
Desde a década de 1970, o coordenador do Grupo de Estudos Meio Ambiente e Sociedade do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Roberto Jacobi, acompanha como a sociedade se organiza em torno da água e como ao longo do tempo as práticas sociais mudaram.
Quase 50 anos depois e tendo concluído o mestrado em Planejamento Urbano e Regional pela Harvard University e doutorado em Socialogia pela USP, o especialista adverte que a sociedade mantém o mesmo comportamento individualista para discutir a questão de água. "Ainda temos uma cultura muito pouco coletiva. Precisamos mudar para um pensamento de corresponsabilização, atuando conjuntamente com o Estado. Não podemos ter a tutela de fazer porque o governo não faz, mas precisamos atuar conjuntamente", ressalta Jacobi.
O professor participará do 8º Fórum Mundial da Água (FMA), que terá início neste domingo (18), debatendo o papel da sociedade na governança da água, a partir da experiência de acompanhar o surgimento das bacias hidrográficas no estado de São Paulo e de orientar a dissertação de alunos de mestrado e doutorado sobre o tema.
"A criação das bacias hidrográficas foi importante, mas atualmente não se tem ideia do que acontece em suas reuniões. A participação popular é ínfima, se comparada com os mais de 11 milhões de habitantes da capital paulista. Há pouco espaço atualmente para que a sociedade se manifeste a respeito do tema água", afirma Jacobi.
Tarifas
Sobre o atual modelo da política tarifária, Jacobi defende a taxação dos grandes consumidores, revertendo a receita para a manutenção da própria bacia hidrográfica. "A receita é muito pequena e não garante a qualidade da água da bacia de onde se tem a arrecadação. Existe uma legislação para cobrança da água por metro cúbico, mas os valores são irrisórios para os grandes consumidores. O dinheiro arrecadado não representa nada para a bacia em relação aos seus problemas, como a contaminação da água, programas de saneamento básico", disse o professor, ao questionar também a política de concessão de bônus ao cidadão que reduz o consumo em períodos de estiagem.
"Quem já paga pouco, deve continuar pagando pouco. Temos de cobrar de quem consome muito", disse.
Mobilização
Ao participar de um dos paineis do fórum, o professor pretende chamar a atenção para a falta de mobilização da sociedade para discutir permanentemente o assunto e defende que o Estado deve incentivar a inserção da população. "Precisamos aumentar o poder de alcance, multiplicar o alcance das discussões. A sociedade precisa tratar o assunto não de maneira catastrófica, mas de uma maneira construtiva. A participação do cidadão deve ser incentivada pelo Estado de maneira colaborativa, construtiva e solidária", disse Jacobi.
Para o professor, o fórum é importante por colocar o tema em discussão. "Nossos antepassados nem discutiam estas questões. Não podemos propagar só ações negativas. Precisamos cobrar uma mudança de atitude tanto do Poder Público, como da visão individualista da sociedade. Não podemos ignorar que a água é um direito, não uma mercadoria. Mas um bem com valor econômico", afirmou.